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Repensando a avaliação

Dra. Edda Curi

Nesta mesa redonda pretendo focalizar as avaliações externas que há alguns anos vêm sendo utilizadas pelos sistemas de ensino tanto federal, como estadual ou municipal. O que me proponho a discutir é sobre os resultados das avaliações em Matemática e o porque eles não são incorporados pela comunidade escolar. A avaliação só é útil se a escola se apropriar de seus resultados e se a avaliação produzir informações que possibilitem modificações de processos escolares específicos. Um dos objetivos desta mesa redonda é contribuir para a formação do professor, buscando o entendimento dos relatórios, dos níveis de desempenho e das escalas apresentadas e a consecução de ações que utilizem os resultados das avaliações para a melhoria das aprendizagens matemáticas dos alunos.

As avaliações externas fazem parte de uma realidade bastante comum dentro das escolas brasileiras, porém as discussões sobre os resultados obtidos precisam ainda ser objeto de reflexão e direcionamento de ações. No que se refere ao ensino de Matemática, as informações divulgadas sobre os resultados encontrados indicam que, de um modo geral, o desempenho dos estudantes está abaixo do esperado. Talvez por essas informações, sejam constantes as afirmações de que os alunos brasileiros “não sabem” Matemática e que não são capazes de utilizá-la em situações do cotidiano. Por outro lado, os resultados de macro-avaliações não são incorporados na prática escolar. Uma das hipóteses da não incorporação de dados relativos aos resultados de macro-avaliações por parte dos professores em seu planejamento escolar é que eles se considerarem alijados do processo de avaliação. Outra hipótese é a não utilização desses dados por parte de gestores para formulação de políticas que possibilitem a melhoria da qualidade do ensino em Matemática. No geral, os resultados de macro-avaliações demoram a chegar às escolas, a serem analisados e incorporados na prática.

Mas, não é apenas o fato dos resultados das avaliações não chegarem às escolas. Vianna (2003) chama a atenção de que a avaliação deve ter conseqüências, não se limitando apenas a apresentar resultados, mas levando a atitudes no sentido de a escola buscar superar os problemas apontados nos resultados obtidos.

As atitudes, no sentido de superação de problemas de aprendizagem, normalmente são cobradas apenas das escolas. A responsabilidade pelos resultados deve envolver o governo, a universidade, os profissionais que atuam nas escolas, a comunidade escolar, a sociedade. Horta Neto (2010) destaca que deve-se buscar formas de colaboração em que juntos agentes, poder público e sociedade tenham fóruns adequados que lhes permitam discutir os resultados de avaliações e encontrar soluções que possibilitem superar os problemas encontrados.

Guerra (2007) aponta a importância das macro-avaliações no sentido de auxiliar as práticas docentes e também de informar à sociedade em geral como a escola está procedendo com suas ações e o seu desenvolvimento. O autor destaca que o conhecimento revelado pelas macro-avaliações não deve ser restrito aos gestores educacionais e pessoas interessadas em avaliação, mas sim a toda comunidade escolar, que deve participar sempre de discussões que podem colaborar para melhoria da qualidade do ensino.

Um aspecto importante é permitir que os professores da escola envolvida tenham acesso a documentos que identifiquem os resultados alcançados em macro-avaliações, comparando-os com os resultados desejados, além de checagem de séries históricas dessas avaliações que permitirão a comparação dos resultados da aprendizagem dos alunos ao longo do tempo. Nesse sentido, a análise dos resultados das macro-avaliações poderá auxiliar as práticas docentes.

Os resultados de alguns tipos de macro-avaliações são compatibilizados pelo INEP que disponibiliza uma massa de dados quantitativos que podem ser analisados qualitativamente. Se os dados obtidos nas macro-avaliações não forem utilizados como contribuição para a ação pedagógica, eles não são úteis para a escola e acabam sendo utilizados apenas para comparação de instituições. É preciso debruçar-se sobre os dados das macro-avaliações com a finalidade de atribuir-lhes significado dentro da prática docente. O professor pode utilizá-los como dados informativos que dialogando com outros instrumentos podem colaborar com a melhor compreensão de sua realidade escolar.

Um ponto que precisa ser destacado é a divulgação dos resultados do SAEB e da Prova Brasil. Os relatórios, em linguagem que nem sempre é clara para o professor, apresentam os níveis de desempenho dos alunos de forma simplificada, muitas vezes sem exemplos, o que nem sempre esclarece ao professor o significado das escalas apresentadas e como os resultados podem ser utilizados para a melhoria das aprendizagens dos alunos.

Acrescente-se a isso a formação dos professores que atuam nos anos iniciais do ensino fundamental. Estes não são especialistas em Matemática porque, em sua maioria, foram formados nos Cursos de Pedagogia. Tradicionalmente, o Curso de Pedagogia contempla, em sua grade curricular, um número muito grande de horas para as disciplinas da área da Educação e uma pequena parte do tempo destinada à formação específica. No que diz respeito às disciplinas de Conteúdo e Metodologia do Ensino de Matemática, Curi (2005) destaca que a média nacional de horas nos cursos de Pedagogia que ela analisou destinadas a essas disciplinas é de 72 horas, distribuídas ao longo de um ou dois semestres, durante todo o curso que tem cerca de 2880 horas.

Mini-currículo da Dra. Edda Curi