envie por email 

Os 250 anos de nascimento de Wolfgang Amadeus Mozart

Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo

Em Salzburgo, cidade natal do compositor, as luzes dos postes estão sendo substituídas, e as calçadas e fachadas das casas passam por reformas, tornando-se mais bonitas. Nos Estados Unidos, diferentes grupos de pesquisadores, de várias regiões do mundo, procuram e encontram dados novos sobre a carreira dele. No Reino Unido, pelo menos três espetáculos já estão em cartaz. E até mesmo o Brasil faz parte desse cenário: no barracão da escola de samba Unidos da Tijuca, no Rio de Janeiro, a bateria afina seus pandeiros, bumbos e tamborins para tocar em sintonia com uma orquestra sinfônica. Pode parecer descabido, mas todas essas atividades, aparentemente dispersas e tão heterogêneas, são, na verdade, parte de um mesmo conjunto – o movimento que, no mundo inteiro, comemora os 250 anos de nascimento de Wolfgang Amadeus Mozart.

Mais do que render merecidas homenagens ao compositor austríaco e à sua obra, os festejos trazem em si um outro desejo: o de desvendar como um homem e sua obra completam dois séculos e meio e continuam encantando e despertando a curiosidade de estudiosos e de platéias dos quatro cantos do planeta. Como diz o jornalista especializado em cultura, Luis Antônio Giron, na revista Bravo de janeiro último: “É preciso descobrir o que faz a obra mozartiana pulsar mais grandiosa do que nunca numa época de niilismo e de autoproclamada morte da arte”.

Genialidade
Para o pianista, professor e pesquisador do departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), Amílcar Zani Netto, primeiro é preciso entender que Mozart era um gênio. “Genialidade é uma característica que não se explica muito bem. Mozart não precisou aprender nada. Ele já nasceu sabendo tudo. Tinha todas as sinfonias na cabeça. Só precisou operacionalizar tudo isso”, explica, em entrevista exclusiva ao SINPRO-SP.

E essa tal característica ajuda muito a explicar o fascínio sobre o personagem e sua obra. Em segundo lugar, em termos musicais, o professor conta que Mozart consegue um feito extraordinário, que é criar uma obra absolutamente inédita e original, “nunca antes vista nem ouvida, que causa espanto sem, contudo, mudar os paradigmas da expressão musical que, naquele momento, vinham do Barroco e, depois dele, desembocam no Romantismo. E é aí que reside sua genialidade”. Mas, embora a genialidade explique o ineditismo das composições e o interesse do público pelo personagem, ainda parece estranho que a música mozartiana tenha resistido ao tempo. Vivemos uma época de sucessos efêmeros, em que o novo e o supostamente popular parecem sempre atrair mais que o erudito. Então como explicar que sonatas, minuetos e concertos continuem tão vivos?

Neste ponto, Zani Netto divide sua explicação em duas. A primeira quem comenta é o professor. “A música é uma forma de expressão totalmente abstrata, ao contrário da pintura, ou da literatura. Por isso permite que seja reinterpretada a qualquer tempo, sem que perca sua atualidade”. Ou seja, repintar O nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli (1445 – 1510) em dias atuais não parece uma idéia sensata; no entanto, reinterpretar As Quatro Estações, de Giuseppe Verdi (1813 – 1901), é sim uma maneira de acrescentar um novo olhar crítico a uma expressão artística. Na segunda explicação, fala o pianista Zani: “a música também tem aspectos transcendentes, absolutamente indizíveis, imateriais e isso se projeta no tempo e, quando alcança certas características, é capaz de se manter viva e continuar fazendo sentido”. E, segundo ele, a obra de Mozart alcança essas características de imortalidade, justamente porque é feita com base em elementos já muito cristalizados na tradição ocidental. “Como ele não rompe com esses padrões, suas composições seguem sendo entendidas”, completa.

O problema da superficialidade
Talvez não esteja aí, nessa imaterialidade que causam o encantamento e a imortalidade, a chave para fazer as pessoas conhecerem e admirarem a obra de Wolfgang Amadeus Mozart? O pesquisador concorda, completando que esse é seu desejo como educador. Seu desapontamento, no entanto, soma-se à opinião de outros musicólogos. “Em vez de as escolas, os professores e a imprensa aproveitarem essas datas comemorativas para educar musicalmente o público, acabam banalizando a obra de grandes mestres”. A queixa de Amílcar Zani Netto e de outros estudiosos diz respeito à falta de profundidade com que os assuntos são tratados. “A fruição desses elementos imateriais que falamos antes carecem de tempo, de conhecimento, de entrega”, comenta o professor. E como isso não acontece, o contato das pessoas com grandes obras acaba se tornando superficial. “E, pior, é uma superficialidade que impede para sempre que a pessoa se aprofunde e aproveite, deliciando-se dessas grandes criações”, completa.

Na opinião do pesquisador da ECA/USP, o 250o aniversário de Mozart é uma boa oportunidade para que as escolas retomem a chamada educação musical. “A música tem assim esse mistério que encanta mesmo quando não entendemos nada de teoria. Aliás, ter menos conhecimento teórico até ajuda nesse envolvimento emocional”, desvenda Amílcar. Ele continua a receita sugerindo que os educadores promovam esse encantamento em seus alunos e aí introduzam novos conhecimentos, aproveitando-se da entrega emocional proporcionada. E quem pensa que esses conhecimentos ficam restritos à área de música se engana. A partir de Mozart, por exemplo, é possível revisitar o contexto histórico dos séculos 16 e 17 e entender as relações entre a nobreza e a maçonaria – já que o próprio compositor era maçom e compôs obras para a agremiação. Artisticamente pode-se buscar o que o período proporcionou em termos de artes plásticas e literatura e criar inter-relações entre os movimentos. E, viajando 180o, até a matemática pode ser contemplada a partir das composições mozartianas. “Ele foi o maior expoente das sonatas, uma forma de música totalmente baseada na razão, nas regras, nos números, na matemática mesmo”, explica o professor Zani, provando que pode soar muito bem unir genialidade, fruição, curiosidade e raciocínio.

Sugestões:

» Música:
Fevereiro a Abril - O Teatro Municipal de São Paulo sedia o Mozartiando, um festival que apresenta as récitas de As Bodas de Fígaro e a Flauta Mágica.
Julho – O Festival de Inverno de Campos do Jordão aposta na música de câmara de Mozart

» Vídeo e DVD:
Amadeus (dir: Milos Forman, EUA, 1984)
A Flauta Mágica (dir: Ingmar Bergman, Suécia, 1974)

» Livros:
Mozart – um compêndio (Jorge Zahar, R$ 75,00)
Cartas Vienenses (Veredas, R$ 59,00)

» CDs
Mozart: Complete String Quintets - Álbum com CDs com as obras completas de Mozart. (em média, R$ 65,00)

» Saiba mais sobre Mozart

ver todas as anteriores
| 03.02.12
De onde viemos

| 11.11.11
As violências na escola

| 18.10.11
Mini-Web

| 30.09.11
Outras Brasílias

 

Atualize seus dados no SinproSP
Logo Twitter Logo SoundCloud Logo YouTube Logo Facebook
Plano de saúde para professores
Cadastre-se e fique por dentro de tudo o que acontece no SINPRO-SP.
 
Sindicato dos Professores de São Paulo
Rua Borges Lagoa, 208, Vila Clementino, São Paulo, SP – CEP 04038-000
Tel.: (11) 5080-5988 - Fax: (11) 5080-5985
Websindical - Sistema de recolhimentos