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Dia mundial do meio chama atenção da sociedade para a saúde do planeta

Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo

No último dia 5 de junho, o planeta comemorou o Dia Internacional do Meio Ambiente. Muito antes de ser motivo para festas, a data representa mais um momento bastante oportuno para a reflexão e a conscientização sobre a degradação ambiental e a necessidade urgente e global de colocar em prática efetivamente a idéia do desenvolvimento sustentável. “E é tempo ainda para preocupação”, completa o meteorologista Gilvan Sampaio. Ele é um dos pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que, nos últimos tempos, vêm participando dos debates sobre as mudanças climáticas, o aquecimento global e suas conseqüências para a vida no planeta. E, para o especialista, que estuda tão de perto as questões ambientais, há de fato muito com o que se preocupar.

O terceiro relatório produzido pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês), grupo de pesquisadores organizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), revela que o grande responsável pela aceleração do aquecimento global é mesmo o homem e seu modo de vida. Portanto, estamos diante de uma encruzilhada: ou mudamos rapidamente essa maneira predatória de lidar com os recursos naturais da Terra, ou o aquecimento global atingirá níveis realmente difíceis de tolerar. Sampaio conta que o INPE vem desenvolvendo modelos climáticos para as regiões brasileiras e, nos cenários mais otimistas, o Sudeste do país se tornaria em média de dois a quatro graus Celsius mais quente, com impactos significativos sobre a população e as atividades econômicas, como a agricultura, por exemplo. Nos cenários mais pessimistas, no Nordeste do país, a temperatura chegaria a ficar até oito graus mais alta, o que praticamente inviabilizaria a vida na região do Sertão, por exemplo.

Possíveis soluções
Agora, se o terceiro relatório trouxe enormes preocupações para governos, empresários, ambientalistas e para a população em geral, pelo menos o relatório seguinte do IPCC – o quarto e último da série – ajudou a clarear um pouco a situação. “Neste último documento, a comunidade científica se uniu para, tendo em vista o papel inegável do homem no aquecimento global, apontar possíveis soluções que, se não resolvem de uma vez o problema, pelo menos ajudam a mitigar seus sintomas”, explica o meteorologista. No entanto, mesmo com este documento em mãos, Sampaio continua preocupado. É que, embora as soluções estejam ali apresentadas, ainda não se vê uma mobilização concreta em favor dessas atitudes e medidas capazes de desacelerar as mudanças climáticas. “A gente não tem visto ações concretas, práticas, ou pelo menos acenos nesse sentido por parte do governo ou da sociedade. E isso é o que deve preocupar a todos nós”, explica.

Em busca de boas novas, vale lembrar que, no início de junho, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush anunciou a disposição de convocar líderes de 15 dos principais países do mundo – entre eles o Brasil – para discutir o aquecimento global e possíveis iniciativas para reduzir a emissão de carbono na atmosfera, certamente o maior vilão do aquecimento do planeta. Esse anúncio representaria uma mudança na postura da administração norte-americana, que sempre se recusou a debater o tema? “Eu não acredito nisso, sou muito descrente e cético em relação a essa postura de abrir o diálogo sobre o assunto. Kyoto já foi essa abertura, e os Estados Unidos se recusaram a assinar”, contesta o pesquisador do INPE. Sampaio se refere ao Protocolo de Kyoto, documento assinado por vários países do mundo, em 1997, e onde constam várias medidas que cada nação, principalmente as desenvolvidas, deveria adotar para reduzir, gradativamente e até 2012, a emissão de gases poluentes e de efeito estufa. Os Estados Unidos não assinaram o tratado essencialmente por questões econômicas – basta pensar na indústria do petróleo e na automobilística, dois dos pilares do modelo de desenvolvimento norte-americano. E, se Tio Sam se recusa a assinar e a cumprir as metas de Kyoto, realmente fica difícil imaginar que estaria de fato disposto a cumprir qualquer outro acordo que estabelecesse medidas semelhantes. O pior, segundo Sampaio, é que o protocolo de Kyoto sequer representa a solução mágica imaginada por muitos. “Ele é pouco. Cumprir as metas de Kyoto é como dar um antitérmico para um doente internado na UTI. Até baixa a febre, mas não ataca a matriz do problema”, sugere Sampaio para, em seguida, reafirmar que “se pelo menos se seguisse Kyoto já estava bom”.

15 anos de Eco 92
Contudo, e apesar das preocupações, o 5 de junho este ano guarda ainda um sabor de recordação. A Conferência Eco 92, que juntou no Rio de Janeiro ONGs e autoridades de variados lugares do globo terrestre para propor ações e posturas para uma vida sustentável na Terra, representando uma espécie de divisor de águas na história do movimento ambientalista, está completando 15 anos. E datas assim redondas sempre são um bom pretexto para discutir antigos problemas. Em 2002, uma segunda edição da reunião, a Rio+10, foi realizada em Johannesburgo, na África do Sul. Naquela oportunidade, a principal questão era saber se havíamos avançado em direção aos cuidados com o planeta e, se sim, quanto afinal teríamos caminhado. Nesse sentido, o saldo final do encontro teve novamente um certo gosto amargo – a destruição do planeta havia alcançado níveis alarmantes.

Neste ano, no que já está se chamando simbolicamente de Rio+15, já que não está previsto qualquer encontro oficial, a expectativa é mais positiva. “Acho que as discussões estão em outro nível, mais completas, o que é mais interessante”, comemora Sampaio. Mas o que fez a diferença entre 2002 e 2007? Sem receio de parecer pretensioso, o pesquisador do INPE responde que se trata de ciência. “A quantidade de dados que colhemos nesses anos e as previsões cada vez mais precisas estão fazendo a diferença, não só porque a análise dos fenômenos fica mais rigorosa, mas porque essa quantidade de dados de qualidade ajuda na hora da tomada de decisão por parte das autoridades”. Nas idas e vindas de boas e más notícias que marcam o debate, repleto de contradições, Sampaio mostra-se mais uma vez decepcionado e preocupado. ”Porque mesmo de posse de todos esses dados de qualidade, os governos estão fazendo muito pouco, ou quase nada”, constata o meteorologista.

E ver a imobilidade das autoridades pode ser prejudicial para o Brasil, um país que – ao que tudo indica – tem grandes chances de despontar entre os líderes no setor de combustíveis limpos. Faz tempo que o país investe em alta tecnologia para a produção de etanol (feito de cana de açúcar) e de biocombustível (extraído, entre outros vegetais, da mamona). O domínio desse processo pode fazer do Brasil uma potência. “Mas, de novo, é preciso que o país se mexa, não deixe um cenário positivo virar outra preocupação”, antecipa Sampaio, se referindo aos cuidados que devem ser tomados para que as plantações de cana ou de mamona, por exemplo, não invadam florestas ou áreas de preservação ambiental, como acontece com a cultura da soja. “Anualmente as plantações de soja avançam na floresta uma área equivalente ao estado de Sergipe”, conta. Por isso há que se cuidar para o tiro não sair pela culatra e, em vez de um ar mais limpo para respirar (porque a queima do etanol e do biocombustível poluem realmente menos), tenhamos ainda mais emissão de carbono, graças à derrubada e à queimada de árvores para transformar mata em lavoura – isso sem falar na expansão das monoculturas de exportação, pouco preocupadas com o mercado interno e o desenvolvimento nacional.

Para Gilvan Sampaio, a falta de mobilização social é a principal responsável por um cenário que acumula tantos problemas e dados tão alarmantes. Daí a importância da reflexão e da conscientização – que só se tornam possíveis quando a informação se espalha. “Falta à sociedade se organizar para cobrar. Isso ainda é muito incipiente no Brasil”, confirma o especialista. “Sem essa pressão social, os governos pouco se preocupam com o tema”, conclui.

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