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5ª edição da FLIP homenageia o dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues

Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo

Começa no dia próximo dia 04 e vai até o dia 08 de julho a 5ª edição da Festa Literária Internacional de Parati, a FLIP. O evento que acontece na tradicional cidade fluminense nasceu em 2003 como uma espécie de caçulinha das grandes feiras literárias que acontecem nos quatro cantos do mundo, como a Harbourfront de Toronto, no Canadá, e o Festival de Berlim, na Alemanha. Mais que uma feira menor e abrasileirada, no entanto, a Flip é antes uma saudação ao prazer de ler, um brinde à alegria de o ser humano ter desenvolvido essa capacidade tão enriquecedora e um convite à fruição - daí porque o nome Festa.

A cada ano, a Festa homenageia um escritor do país. Em 2007, o escolhido é o dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues. Com suas afirmações cínicas e peças de teatro beirando a pornografia – segundo alguns críticos –, escolher Nelson num país de Machados, Drummonds e Gracilianos pode soar como um afago à polêmica. Confere? “Não”, responde o jornalista Cassiano Elek Machado, diretor de programação da FLIP. “Homenagear Nelson Rodrigues é uma maneira de lembrar às pessoas que a criação literária é muito flexível, variados formatos e propostas se encaixam no que a gente chama de literatura”, explica. Ele acredita que a dramaturgia é também um formato da grande literatura, assim como os clássicos romances, contos e a poesia. Mas ele admite: ainda há uma certa resistência em se aceitar isso.

É essa a discussão, aliás, sobre as possibilidades da criação literária e a flexibilidade que ela pode ter que acaba reunindo todas as mesas e os debates que acontecerão na FLIP deste ano. Na verdade, Elek Machado, que é jornalista da revista Piauí e há anos cobre a área de literatura, conta que é difícil extrair uma essência que articule todas as mesas e tudo o que vai acontecer na Festa de Parati, mas com certeza esta edição “é menos sisuda e mais bem humorada que as anteriores”. Inspiração rodrigueana? Não de novo, responde o diretor de programação. “Essa proposta de programação nasce da visão daquilo que deve ser uma festa literária. Aí desenhei uma programação com escritores interessantes e que como leitor e como visitante eu ia gostar de participar de tudo”, comenta. Então, na boca da cena, debates interessantes, e lá no fundo, quase nas coxias, uma lembrança de que literatura é arte – que pode encontrar maneiras variadas para se expressar.

Programação diversificada
Se o leitor der uma olhadinha no programa da Festa Literária Internacional de Parati vai ver que é isso mesmo. No dia 05/07 começam os debates. E lá no meio da tarde poderá ser encontrada uma mesa composta pelo dramaturgo Augusto Boal e pelo diretor teatral Eduardo Tolentino. O primeiro, nome conhecido dentro e fora do Brasil, é pensador do teatro do oprimido; o segundo, fundador do grupo Tapa. Debatem – ou meditam, como preferem – sobre os mistérios das obras de Nelson Rodrigues. Já no dia seguinte, espaço aberto para a polêmica em torno da biografia recolhida do cantor Roberto Carlos. O assunto já foi tema de reportagem aqui no site do SINPRO-SP e ainda está fresco nas lembranças dos fãs e dos não-fãs do Rei. Para trocar figurinhas sobre o ocorrido, a FLIP vai unir na mesma mesa os escritores e biógrafos Fernando Morais e Ruy Castro e o autor da biografia de Roberto Carlos, Paulo Cesar de Araújo. E para finalizar as sugestões, uma conversa sobre o lugar do roteiro de cinema dentro dos gêneros de literatura. Freqüentemente os roteiros são tidos como peças técnicas e não pertencente ao mundo literário. Nesta mesa, estarão Dennis Lehane, o autor de “Sobre Meninos e Lobo”s, adaptado para o cinema por Clint Eastwood, e Guillermo Arriaga, que fez roteiros de filmes premiados, como “Amores Brutos” e “Babel”.

É assim, variando de dramaturgia a roteiro, passando por biografia, romance e poesia, que a FLIP pretende não morrer ao fim do evento. “Nosso desejo é que as discussões travadas aqui continuem, não findem após o quarto dia de feira. E a gente acha que a experiência de ter passado por aqui ajuda a levar a discussão adiante, seja numa pesquisa, seja na sala de aula”, almeja Cassiano Elek Machado, entrando no terreno fértil que é a intersecção entre literatura e educação.

Literatura e educação
Quando perguntado sobre como a Festa de Parati pode ser importante para os professores que forem até lá, o diretor de programação sugere que, em primeiro lugar, a pessoa que visita um evento como esse tem sempre o risco de sair transformado. “Ele ganha uma bagagem nova e ventila a bagagem que já tinha”, explica. Seja porque ouviu, assistiu e aprendeu muito naqueles quatro dias de contato intenso com a literatura, seja porque cruzou e conversou com um autor admirado por ele. “O professor vai ouvir e ver gente interessante, falando sobre assuntos interessantes”, propõe o jornalista. O fato é que sempre se sai mais rico de uma Festa Literária. E isso acaba vazando para a sala de aula.

Elek Machado destaca uma mesa que pode ser bem interessante para os educadores. “É uma composta por Chacal e Lobão. Pode parecer meio perdida lá no meio, mas fala sobre as letras das músicas como criação literária”. Pode ser aproveitado pelos professores porque, primeiro, derruba a idéia de que letra de música não é literatura. “Só porque tem acordes acompanhando não deixa de ser poesia. E poesia é literatura”, diz. Segundo, porque pode fornecer um material atrativo para trabalhar assuntos variados em sala de aula, já que a música atrai a atenção das crianças e dos adolescentes.

Tem mais um ponto. Eventos como o de Parati – e já há outros no Brasil, como a Feira de Passo Fundo e o Festival de Ouro Preto, ambos em Minas Gerais – incentivam o gosto pela leitura tanto nos apreciadores já habituais de uma boa obra quanto nos que estão começando agora.

Há ainda espaço para crianças na FLIP. Não só espaço físico com oficinas e conversas com autores de livros infantis, mas também eventos e momentos para discutir as obras feitas para esses pequenos leitores. É a Flipinha. Vale lembrar que o ano de 2007 é de festa para a literatura infantil, afinal o Dicionário Crítico de Literatura Infantil, de Nelly Novaes Coelho, está sendo reeditado e Ruth Rocha acaba de ganhar por unanimidade o importante prêmio de literatura oferecido pela Fundação Conrado Wessel. Por isso a programação para meninos e meninas não podia ser menosprezada – e a organização convidou gente como Pedro Bandeira, autor de clássicos como “A droga da obediência” e “O fantástico mistério de Feiurinha”, Ignácio de Loyola Brandão e Daniel Munduruku, escritor indígena, para conversar com as crianças. Além disso, há uma regata, oficinas de escrita, desenho e, por que não, shows especialmente idealizados para esse público.

Se o leitor se sentiu tentado a aportar em Parati, o diretor de programação avisa que os ingressos para as mesas já estão esgotando, mas que há sempre a opção de ver os eventos ao vivo, pelo telão. Há ainda uma série de acontecimentos paralelos que podem ser desfrutados, oficinas, apresentações musicais e o prazer de mergulhar no mundo da literatura “livre e flexível”, nas palavras de Cassiano Elek Machado, a partir de escritores, livros e da troca com os outros leitores.

» Programação completa no site oficial www.flip.org.br

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