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Especialista fala sobre o polêmico acordo de unificação ortográfica

Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo

A discussão não é tão recente, mas estava de certa forma adormecida, e as notícias veiculadas pela imprensa no último mês de agosto sobre a unificação ortográfica da Língua Portuguesa acabaram pegando de surpresa boa parte dos brasileiros, inclusive aqueles diretamente envolvidos com o tema, como os professores. O espanto se justifica: se e quando as mudanças entrarem em vigor, o uso do trema, por exemplo, não será mais necessário. Estará correto quem escrever lingüiça ou freqüência. Palavras como vôo e enjôo não precisarão mais ser acentuadas. O mesmo raciocínio valerá para os ditongos abertos “ei” e “oi” – o que significa dizer que poderemos escrever, sem remorsos, idéia ou jibóia. O acento diferencial (pára e para) desaparece. Finalmente, o uso do hífen também sofrerá modificações, e a reforma incorporará oficialmente ao alfabeto as letras “K”, “W” e “Y”.

Todas essas novidades a ajustes começaram a ser discutidos em 1990, a partir de entendimentos inicialmente estabelecidos entre Brasil e Portugal. As negociações, movidas pelo argumento principal de que era preciso facilitar a comunicação entre as nações de Língua Portuguesa, acabaram avançando e geraram um protocolo de unificação que, para entrar em vigor, precisaria ser aceito e ratificado por pelo menos três dos oito países que têm o Português como idioma oficial: Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau, Cabo Verde e Timor Leste. Depois de dez anos de debates, o Congresso Nacional brasileiro aprovou e oficializou o acordo, em 2001, sancionado em seguida pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. O mesmo movimento também feito por Cabo Verde, em fevereiro de 2006, e por São Tomé e Príncipe, ainda no ano passado, mais precisamente em dezembro.

Com as três adesões, em tese estariam cumpridas as exigências formais para que o protocolo fosse colocado em prática, de forma ampla e coletiva. No entanto, Portugal recuou e decidiu não oficializar sua concordância. Sem o peso político e cultural da antiga metrópole a reconhecer e legitimar as mudanças, a idéia da reforma perde força e se esvazia, e pode até não mais sair do papel. Seu sucesso agora depende de intensas negociações diplomáticas, que já começaram. O Brasil, por exemplo, que se preparava para as alterações já a partir de 2008, não fala mais em prazos.

Na esteira das divergências e das disputas políticas, muitas questões surgem na cabeça dos falantes da Língua Portuguesa. Por um lado, mexer na grafia da língua pode aproximar os países irmãos e aumentar a livre circulação de idéias e de conhecimento. Mas por outro, há quem diga que o acordo poderá “abrasileirar” demais o Português, desprezando a pureza da língua e ameaçando a tradição secular de um idioma. Há ainda todas as questões de ordem prática. Primeiro será preciso ensinar a nova ortografia para os professores, para que eles, por sua vez, possam ensinar os alunos. E todo o material gráfico, didático e editorial de todos esses oito países também terá de passar por reparos, correções e ajustes.

Em entrevista exclusiva ao site do Sindicato, José Luiz Fiorin, professor de Lingüística da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Comissão de Definição da Política de Ensino, Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa (Colip), entidade ligada ao Ministério da Educação, ajuda a jogar luz sobre pontos ainda obscuros da reforma e esclarece algumas questões importantes e ainda pouco compreendidas do acordo de unificação. Na conversa, o especialista fala sobre o medo que toma conta dos portugueses, analisa as disputas políticas envolvidas e destaca o valor simbólico da existência de uma Língua Portuguesa com grafia unificada. Os melhores trechos da entrevista você pode acompanhar aqui.

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