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Um cordão para a vida

Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo

No início da semana passada, uma equipe do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP) estava radiante. Os pesquisadores, jovens em sua grande maioria, haviam acabado de confirmar que o tecido do cordão umbilical é um meio muito mais generoso para a obtenção de células-tronco que o sangue retirado do mesmo cordão.

Não é demais lembrar que células-tronco são aquelas que têm a capacidade natural de formar diferentes tecidos do corpo humano e representam justamente por isso uma das grandes esperanças e apostas da ciência. Pesquisadores do mundo inteiro acreditam que elas são uma das chaves para o desenvolvimento de novos tratamentos e terapias para problemas graves de saúde, como o diabetes e doenças do coração, de Parkinson e de Alzheimer. Em seus estudos, os cientistas vão buscar essas células-tronco em regiões muito específicas do corpo humano. Além do cordão e do sangue contido ali, servem de fontes a medula óssea, a polpa dentária – que fica no interior dos dentes – e o tecido gorduroso.

Até agora, o foco das pesquisas com cordões umbilicais era o sangue que passava por ali, onde os cientistas conseguiam isolar células-tronco para desenvolver seus trabalhos. No entanto, apenas 10% dos procedimentos de coletas resultavam num isolamento efetivo dessas células, um aproveitamento considerado baixo e que levou os pesquisadores a idealizar outros caminhos e alternativas. E não foi preciso ir muito longe – a solução estava bem perto. “Éder Zucconi, que participa da equipe, conseguiu quase 100% de sucesso no isolamento de células-tronco a partir do tecido de cordão umbilical de cães. E isso nos deu as pistas para verificar se o mesmo acontecia com seres humanos”, conta a bióloga Marianne Secco, uma das autoras do trabalho feito na USP.

Os estudos demoraram pouco menos de um ano, um tempo relativamente curto, e comprovaram que o tecido do cordão humano, ao contrário do sangue que corre ali, é extremamente rico em células-tronco mesenquimais. Trata-se de um tipo de células-tronco adultas que é capaz de se diferenciar em um maior número de tecidos, como cartilagens e músculos; conseqüentemente, é o mais promissor para o desenvolvimento de novas terapias. “Conseguimos isolar as mesenquimais em uma de cada dez amostras extraídas do sangue. Quando as amostras eram retiradas do cordão umbilical, foi possível isolar esse material em dez de cada dez amostras”, comemora Marianne. Segundo ela, uma outra grande vantagem do tecido de cordão umbilical é que é um material facilmente encontrado e que, em princípio, seria descartado e iria para o lixo. “Todos os dias nascem crianças e todos os dias os cordões são desconsiderados. Temos aí uma fonte abundante de material”.

A etapa seguinte do processo está diretamente ligada aos bancos privados de células-tronco. Desde 2003, laboratórios particulares oferecem o serviço de coleta de sangue do cordão umbilical na hora do nascimento dos bebês. A família paga pela coleta e pelo armazenamento daquele sangue. “Ficamos angustiados, depois do resultado da pesquisa, porque esses laboratórios colhem o sangue, mas descartam a parte mais rica, que é o cordão em si”, alerta Marianne. Atualmente, nenhum banco privado armazena o cordão e, segundo a bióloga, isso não acontece por falta de equipamento ou instalação, mas justamente porque não se tinha a noção de poderia ser uma material riquíssimo para obtenção de células-tronco. A pesquisadora imagina que agora é uma questão de tempo e de treinamento de profissionais para que os laboratórios passem a coletar também o cordão. Contudo, vale lembrar que o material recolhido ou armazenado por esses bancos não tem como destino as pesquisas científicas. O uso é privado mesmo, só beneficiando o doador ou, quando muito, membros de sua família, em caso de necessidade de um transplante, por exemplo.

Na outra ponta, as pesquisas da equipe da USP não param por aqui. “A gente ainda não sabe por que há poucas células no sangue. Suspeitamos que elas que elas cheguem até lá por conta do atrito ou graças à ação da agulha da coleta, que mexe na parede do cordão e pode fazer cair na corrente sangüínea apenas algumas células”, avalia a pesquisadora. Entender esse mecanismo pode ajudar a descobrir e comparar quais as possíveis semelhanças e diferenças entre as células-tronco do sangue e as do cordão e saber se ambas, na prática, são funcionais para as mesmas finalidades. Em seguida, a tarefa será investigar se dá no mesmo congelar o cordão completo ou se seria possível congelar apenas as células já isoladas. É trabalho para muitos anos, mas isso não desanima Marianne. “O tempo de teste e pesquisa não é nem um pouco importante perto da nossa grande causa. Aqui a gente trabalha no que gosta, mas com um objetivo bem maior, que é gerar benefícios para a população”, conclui a bióloga, de apenas 24 anos.

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