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Desafios da educação de crianças e jovens

Por Francisco Bicudo

Educar crianças e jovens sempre foi uma tarefa que deixou pais, mães – e professores – com os cabelos em pé. As dúvidas são muitas – e as respostas, quase sempre, muito poucas. Será que estamos agindo de maneira correta? Eles precisam de limites? Não sei dizer “não”. Ele é ótimo em casa, mas um demônio na escola. O que eu faço? Está crescendo e se tornando rebelde e desobediente. A agressividade vem aumentando. Mas era tão bonzinho... Não reconheço mais meu filho, ele mudou muito. Quando chega a adolescência, o medo aumenta, pois o contato com o sexo e as drogas passa a ser uma realidade mais do que presente. Não se pode esquecer que, não raro, esperamos que os pequenos cresçam à nossa imagem e semelhança, seguindo os passos por nós pré-determinados ainda na maternidade, como se fosse possível, a partir do nascimento, produzir, e controlar, o roteiro desse filme.

Transportadas para as crianças, as expectativas e ansiedades adultas, somadas à auto-proteção, podem se transformar em frustrações e decepções, fazendo surgir jovens inseguros, sem personalidade e incapazes de reagir e responder às dificuldades da vida. No mundo moderno, apertados pela falta de tempo, os pais têm transferido às escolas – e, principalmente, aos professores – a tarefa de educar seus filhos. A desagregação familiar e a perda de referências e valores éticos, humanistas e coletivos colaboram com a formação de jovens individualistas e consumistas, que acham que tudo podem. A falta de limites e a incapacidade de conviver com as negativas às vezes geram tragédias.

Sem fórmulas ou modelos prontos ou acabados, e recusando as camisas de força, mas procurando dar vazão para algumas das angústias e das dúvidas vividas por pais e educadores, a psicóloga Rosely Sayão acaba de lançar o livro “Como educar meu filho? Princípios e desafios da educação de crianças e adolescentes hoje”. Editada pela PubliFolha, a obra é uma coletânea de artigos produzidos pela autora, que é também consultora educacional e tem mais de trinta anos de experiência em atendimento em clínicas, supervisão e docência. Algumas idéias são polêmicas – e você, claro, pode concordar ou discordar do que pensa a autora.

O importante é que se pode buscar no livro reflexões e relatos cotidianos que podem representar um porto seguro para aquele momento de sufoco e desespero, quando nada mais parece dar resultado. Como afirma a própria apresentação da obra, “em textos curtos e organizados por temas, a autora discute as responsabilidades e os papéis de filhos, pais, professores e escola na educação. Suas reflexões incentivam os questionamentos e as mudanças conscientes de atitudes”.

Vale a pena conferir algumas das idéias apresentadas pela autora no livro:

- “Há um bom tempo, não sabemos ao certo o que é ser autoridade. Além disso, também ficamos confusos com os limites que separam o que é público do que é privado, entre saber exercer a autoridade e ser autoritário. (...) Queremos que as crianças tenham autonomia, mas vivemos protegendo-as mais do que precisam para viver e sobreviver. (...) É justamente esse o desafio dos pais: se superar para que, assim, os filhos aprendam também a superar os limites da educação que tiveram. Buscar a coerência em suas atitudes, para que os filhos assumam as conseqüências das escolhas que fizerem. E, principalmente, aceitar que viver nem sempre é prazeroso”;

- “Acontece que, sem repressão, não há educação, não há possibilidade de convívio social. (...) Não há democracia sem proibição. Claro que não se trata dessa repressão truculenta e policial a que estamos, infelizmente, acostumados a associar a palavra, mas da repressão que susta, que dosa, que modera, que retém, que refreia, que inibe. (...) Dialogar é preciso, mas só o diálogo não resulta em nada. É preciso que o diálogo seja acompanhado de uma ação orientadora e restritiva por parte dos pais”;

- “Proibir tem sido difícil, e mais difícil ainda tem sido remar contra a maré, ser diferente da maioria dos outros pais. (...) Mesmo assim, educar é preciso! E educar um filho significa, ainda, ensinar a ele todos os princípios, os valores, a moral e as virtudes que os pais valorizam. (...) O que importa é o ato educativo, e os pais não podem se omitir dessa responsabilidade”;

- “Em primeiro lugar, ameaça não funciona, pelo menos não para o que os pais pretendem. (...) O que provoca a ameaça? Em geral, o medo. Mas jamais a responsabilidade. E nunca é demais lembrar que educar é preparar para a autonomia, portanto, para a responsabilidade”;

- “Os pais podem saber como educar o filho em casa, mas não sabem como fazê-lo na escola, mesmo quando são professores, porque não o são daquela escola, daquele aluno, que freqüenta determinada classe. (...) O maior trabalho dos pais em relação à escola deve ocorrer anteriormente: na escolha da escola, na busca de uma que ofereça um projeto pedagógico compatível com a teoria que fundamenta sua prática, da que se ocupe da formação permanente de seus professores, da que seja coerente com o que postula nas palavras. Feita a escolha, os pais precisam confiar na escola e delegar a ela a educação de seu filho no espaço escolar”;

- “Claro que nem é preciso ressaltar a importância do acesso ao conhecimento sistematizado que a escola possibilita aos alunos; é isso que permite que tenham instrumentos para interpretar o mundo com mais recursos. Mas a escola tem outras funções tão importantes quanto essa. E uma delas é ajudar os jovens a se libertar dos pais”;

- “Para ser educador no espaço escolar, é preciso, antes de tudo, conhecer as etapas do desenvolvimento da criança e aprender a encaminhar o processo educativo no âmbito coletivo. Em segundo lugar, é preciso aceitar o fato de que a criança vai sempre testar os adultos que a educam e as regras de convivência que aprende. (...) Quem não tem paciência, não se dispõe a ser generoso e tolerante e não consegue conter as próprias reações impulsivas, não pode dedicar-se à tarefa de educar”;

- “Que o clima reinante no espaço escolar não é dos melhores, todos sabem. Que as condições de trabalho dos professores estão longe do ideal, também. Que eles são alvos de atos violentos por parte de muitos alunos, também é preciso reconhecer. Mas nada disso justifica atos que não podem ser chamados de educativos. Existe um número muito grande de professores que exercem seu papel com maestria nas mesmas condições. Eles têm consciência da importância do que fazem”.


Serviço
“Como educar meu filho? Princípios e desafios da educação de crianças e de adolescentes de hoje”
Rosely Sayão
Editora PubliFolha
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