Elisa Marconi e Francisco Bicudo
A presidente eleita Dilma Rousseff estabeleceu como linha mestra de sua campanha à Presidência da República a erradicação de pobreza e a transformação do Brasil em um país de classe média. O compromisso foi reforçado nas entrevistas que se seguiram à vitória alcançada nas urnas, em 31 de outubro. Na argumentação construída para mostrar à população que essa ideia era possível, Dilma lembrava que, nos 8 anos de governo do presidente Lula, 28 milhões de brasileiros deixaram de ser miseráveis. Para a então candidata e agora presidente eleita, a combinação de investimentos em políticas sociais com estabilidade e desenvolvimento econômico teria garantido a ascensão, na pirâmide social, de parcela significativa da nossa população.
O economista Waldir Quadros afirma que, sejam quais forem os critérios e a metodologia de análise aplicados, o número de miseráveis de fato caiu significativamente no Brasil. A população pobre encolheu, e as classes médias foram encorpadas e ganharam novos membros. É uma notícia positiva, sem dúvida. Mas Quadros manifesta algumas preocupações com o novo cenário.
Segundo o especialista, para o Brasil ser mesmo um país de classe média, é preciso que os serviços e o padrão de vida a que a tradicional classe média tem acesso cheguem a todos os habitantes. Essa é uma realidade que ainda está longe de acontecer, principalmente por duas razões. A primeira, diz Quadros, é que “as classes do topo da pirâmide, que chamo de alta classe média e média classe média, estagnaram, pararam de ascender”. O segundo fator diz respeito aos esforços feitos nesses últimos anos, que já surtiram efeitos, mas ainda não converteram as melhorias conjunturais em avanços estruturais.
O SINPRO-SP conversou com Waldir Quadros, que é pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (CESIT/Unicamp) e professor do Instituto de Economia da universidade. Ele destaca ainda que essa travessia “para um país de classe média” não será fácil e lembra que a classe média tradicional está irritada com essa mudança, pois enxerga no movimento espécie de invasão de espaço. “A intelectualidade e os formadores de opinião precisam vir a público para discutir a questão, trabalhar essas ideias e fazer a mentalidade avançar no mesmo ritmo da economia”.
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