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Egito: os ventos sopram a favor

Elisa Marconi e Francisco Bicudo
Publicado em 15/4/2011

No último dia 17 de fevereiro, o site do Sindicato dos Professores de São Paulo levou ao ar um podcast com uma entrevista exclusiva com Mohamed Habib, professor e pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Na ocasião, o educador, que é também vice-presidente do Instituto de Cultura Árabe, analisou as grandes transformações vividas por seu país de origem, o Egito. Seus conterrâneos acabavam de derrubar o presidente-general e ditador Hosni Mubarak, que esteve no poder nos últimos 28 anos. Dois meses depois daquela memorável sexta-feira, 11 de fevereiro, o Ministério Público do Egito determinou a prisão de Mubarak e dos filhos dele. Este acontecimento em especial chama a atenção e sugere que – apesar de a agenda midiática já ser outra e de as notícias sobre o levante egípcio não chegarem mais com muita força por aqui – as mudanças estão acontecendo. O processo revolucionário continua em marcha.

Numa segunda entrevista também exclusiva para o site, Habib confirma que os bons ventos da democracia seguem soprando no Egito. “Os acontecimentos se dão em duas velocidades distintas: aquela desejada e cobrada pelo movimento insurgente, que tomou a Praça Tahrir, e aquela garantida pelo Comando das Forças Armadas, que controlam o governo de transição”, explica.

O pró-reitor lembra que a sociedade civil organizada que mobilizou a multidão de egípcios que tomou conta da Praça durante semanas, até a queda de Mubarak, continua agindo. É bem verdade que os dois milhões e meio de pessoas que ocuparam o centro do Cairo nos momentos de ápice do processo já não estão ali acampadas, mas os sindicatos, associações e movimentos políticos seguem exigindo e cobrando mudanças.

Já o exército, segundo Habib, atua num ritmo menos intenso. Para ele, há duas razões principais para essa cautela: “a máquina do Estado precisa funcionar bem, apesar das instabilidades, e a troca da antiga equipe precisa ser feita com cuidado”. Ele conta que, nos últimos 60 dias, todo o primeiro escalão, ministros e ocupantes de altos cargos públicos, já foram substituídos. Para o professor da Unicamp, esse cenário é um daqueles raros casos em que os dois lados estão certos: o movimento, por cobrar agilidade e respostas firmes e rápidas; o comando, ao agir com cautela.

Sede por mudanças

Ele reconhece que é preciso entender a sede por mudanças quando ela vem de um povo que passou os últimos 50 anos – com exceção dos primeiros anos do governo nacionalista (1954-1970) de Gamal Abdel Nasser (1918-1970) – dominado por ditaduras tiranas e sanguinárias. O temor de retrocesso faz mais sentido ainda quando a história do país está também recheada de exemplos em que as Forças Armadas, em vez de abrirem espaço para a democracia, acabam se apropriando do poder. “Foi assim em 1952, quando os militares deveriam passado o poder aos civis e promovido eleições livres. E não foi assim que aconteceu. Aliás, Mubarak nasce, digamos assim, naquele momento”, ensina Habib.

O vice-presidente do Instituto de Cultura Árabe defende que o receio do movimento e da sociedade civil de que essa situação se repita é legítimo; contudo, “é precipitado atribuir a lentidão dos processos a um desejo das Forças Armadas de ficarem no poder”. Para ele, apesar da morosidade própria de um processo agora negociado de transição para a democracia, a Justiça está funcionando e sendo feita. Os envolvidos em casos de violência contra os participantes do levante popular estão sendo julgados e condenados. “Não é possível ficar calado e de braços cruzados diante da morte de 360 pessoas – na versão da polícia – ou de 650 pessoas, segundo quem participou das manifestações”, analisa o pró-reitor. A sociedade ainda reclama e pede solução para todos os outros crimes que foram cometidos durante o governo de Mubarak, como o desvio de recursos públicos, o desrespeito aos direitos humanos e o assassinato de opositores.

O professor da Unicamp destaca que o Poder Judiciário egípcio vem sendo inclusive elogiado pelas medidas. Os advogados, juízes e outros profissionais da área estão reconquistando – a cada decisão – a credibilidade e o prestígio que perderam nas últimas décadas, por conta das leis e do estado de exceção determinado pelo governo de Mubarak.

“A Justiça egípcia trabalha bem, promove julgamentos justos, e isso ajuda a reestabelecer os laços entre o Judiciário e a população”, avalia. Também salta aos olhos a relativa tranquilidade que agora conduz essas mudanças, ao contrário do que acontece em outros países do mundo árabe, como a Líbia. Na entrevista de 17 de fevereiro, Habib atribuiu esse cenário à cultura milenar do Egito e à sociedade muito bem organizada. Dois meses depois, “fica mais claro ainda para o mundo que os egípcios sempre preferem a moderação, o não radicalismo e é para esse horizonte que o país está caminhando”, garante.

Por fim, Habib – que tem boa parte da família ainda morando no Egito – conta que a população está muito orgulhosa por ter derrubado pacificamente o ditador e que agora “pode andar de cabeça erguida. Era uma vergonha para os egípcios aquela situação. Agora a gente levantou a cabeça e já pode olhar para a frente”, conclui.

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