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Fragmentos de um discurso joãoubaldiano

Por Francisco Bicudo
Especial de Paraty

Concorridíssima (estava muito mais que lotada, com gerais e arquibancadas laterais improvisadas ocupando cada palmo de areia), animada, inteligente e bastante engraçada e divertida - foi assim a conversa com o escritor baiano João Ubaldo Ribeiro (mesa 14, "Alegorias da Ilha Brasil") na FLIP, como revelam os fragmentos da fala dele que selecionei e reproduzo abaixo. Foi a maneira que encontrei para tentar registrar e documentar algumas tiradas e raciocínios sensacionais, que de alguma maneira desnudam o jeito de ser e de pensar do autor de obras magistrais como "Sargento Getúlio", "Viva o povo brasileiro" e "O sorriso do lagarto".

"Por alguma razão que não consigo explicar a ilha de Itaparica invariavelmente aparece em meus livros. Talvez faça mais parte da minha formação do que eu suspeite. Tenho medo do carioquês, apesar de conhecer e de ter vivido no Rio. A história vai acabar sempre saindo com a cara de um itaparicano".

"Não sou historiador de Itaparica. Nunca me preocupei com a veracidade das situações. Não escrevo reportagens".

"Quando comecei a escrever, era um autor engajado politicamente, achava que mudaria os destinos da humanidade, que em poucos anos ganharia o Nobel e que seria presença maiúscula na cultura nacional".

"No momento em que decide ser escritor, você decide se vai ser bom ou ruim, se vai fazer concessões, qual a hierarquia de valores que pretende consagrar em seus livros, se quer dizer algo importante ou apenas alcançar sucesso fácil".

"Olhe, é muito difícil achar lógica no sucesso ou no fracasso de um escritor. Não sei se sorte é a melhor palavra. Mas existe sim um tanto de imponderável".

"O que O Sorriso do Lagarto anunciava em termos de ciência acabou virando brincadeira".

"Não quis coisa nenhuma reescrever a história do Brasil do ponto de vista do dominado. Queria escrever um bom livro, bem escrito e que fosse grosso, para esfregar na cara do Pedro Paulo Sena Madureira. Foi isso o que fiz". (sobre "Viva o povo...")

"A obra de Guimarães Rosa não me fala. Não está entre os autores de meu afeto".

"Tenho medo do ser humano pilotando seu próprio destino".

"Não sou otimista em relação à humanidade. Somos uma espécie muito criticável".

"A nossa ruindade animalesca prevalece, apesar de nossa racionalidade".

"Por que eu deveria escrever um livro sobre o pecado da preguiça? Só porque sou baiano?"

"Encomenda gera livro, cheque gera inspiração". (sobre seu processo criativo)

"O grande João Ubaldo é inteligente, solidário, simpático, educado, afável. Uma excelente pessoa".

"Já o pequeno João Ubaldo é um canalha que vive me perseguindo. Já tentei botá-lo para fora de casa várias vezes. Mas ele não vai embora".

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