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Aulas de (sétima) arte

Elisa Marconi e Francisco Bicudo
Publicado em 19/8/2011

Depois do intervalo, os alunos entram na sala, com aquela certa desordem habitual. Vão se sentando lado a lado os irmãos Lumière, David Griffith, Serguei Eisenstein; um pouco mais à frente estão Luis Buñuel, Pedro Almodovar e Quentin Tarantino. Entre eles, Walter Salles, Daniel Filho, Humberto Mauro e Júlio Bressane. Evidentemente, essa classe formada por cineastas de todos os tempos e lugares não existe de fato; mas a ideia dos professores Evandro Cesar dos Santos e Meire Oliveira Silva é convidar outros educadores a conhecer a obra de cada um deles e, a partir daí, enriquecer o próprio repertório a respeito de momentos marcantes das histórias do cinema mundial e brasileiro.

Santos e Meire são os responsáveis pelo curso História do Cinema, que o SINPRO-SP oferece a partir do próximo dia 1º de setembro. Serão cinco encontros de três horas cada, nos quais os participantes poderão conhecer as principais escolas cinematográficas do país e do exterior, com intuito de permitir que se aprofundem na linguagem e nos encantos da sétima arte.

Para além do enriquecimento do repertório pessoal, estudar a história do cinema tem razões que podem estar bem afinadas com a educação. “O cinema é uma arte, hoje em dia muito utilizada em sala de aula, e conhecer a trajetória dessa narrativa faz parte desse processo de construção do conhecimento, para alcançar melhor aplicação desse recurso nas aulas”, propõe Santos, que é cientista social e professor há 13 anos, além de organizador do Festival Paulistano de Vídeo nas Escolas e integrante do Coletivo Nossa Tela. Seguindo essa linha de raciocínio, se o professor conhece mais a história do cinema, as características de cada escola e de cada cineasta, se compreende mais a fundo os conceitos e os contextos que cercam cada obra, o uso de filmes em sala de aula se torna uma experiência mais rica para todos.

“Se o educador entende com mais propriedade e tem a percepção mais precisa das discussões que estavam em torno da sociedade no momento da produção daquele filme, se conhece a escola, o movimento artístico a que pertence, terá muito mais subsídios e elementos para encaminhar e sugerir trabalhos e reflexões sobre as obras”, define Santos. Paralelamente a esse processo, segundo ele, há que se lembrar que o professor é um ser humano como outro qualquer, integrado à sociedade, mas, principalmente, um ser reflexivo, que pensa essas relações, que participa ativamente dos debates públicos e que tem a consciência que a arte é um dos elementos dessa reflexão - e o cinema é um legítimo representante das artes.

Filmes de Escolas específicas

O curso propriamente dito vai se apoiar na análise dos filmes de Escolas específicas, com suporte teórico de textos clássicos, e em discussões a respeito das peculiaridades de cada movimento. Essa é exatamente a especialidade da professora Meire, mestre e doutoranda nas áreas de cinema e literatura, e parceira de Santos na condução desse curso. As questões estéticas, políticas e de inserção social dos filmes serão assunto nas aulas, porque, para o integrante do Coletivo Nossa Tela, esses detalhes combinam perfeitamente com a proposta de usar filme em sala de aula e, mais ainda, com a formação cidadã do professor.

Santos sugere como exemplo a discussão a respeito da época de produção do filme. As obras, na grande maioria dos casos, retratam o olhar de um tempo muito específico para outra era. É preciso, portanto, que o professor conheça bem esses dois tempos simultâneos presentes em cada longa metragem. “Irmão Sol, Irmã Lua”, só para ilustrar, é o olhar da sociedade dos anos 1970 para a Idade Média e é possível, a partir dessa constatação, trabalhar história, estudos sociais, geografia, linguagens e até os conceitos matemáticos que aparecem em uma ou em outra cena. “O cinema é transversal, pode ser trabalhado pelos professores das humanidades, de linguagens, de matemática, de artes. Cada aspecto do filme pode ser de grande valor para os trabalhos em sala de aula, independentemente da disciplina”, afirma.

O curso vai partir do nascimento do cinema, com os irmãos Lumière, vai passar pelos fundamentos da arte, com Griffith e Eisenstein, chegar ao cinema moderno norte-americano e Hollywood, transitar pelo neo-realismo italiano até chegar às produções brasileiras. “Atlântica, Vera Cruz, as chanchadas e todo o chamado Cinema da Retomada, que aparece no final dos anos 1990 aqui no país”, reforça Santos. Ao apresentar essa filmografia nacional, o resultado é que os professores se apropriam das várias formas de pensar e retratar o país, já que um filme, como Santos já colocou, é sempre uma visão, uma edição, de como o artista enxerga a realidade.

Possibilidade pedagógicas

O outro efeito colateral provocado por essa exposição à produção brasileira é o despontamento de um desejo dos professores de eles mesmos virarem realizadores de vídeos, de audiovisuais. A tecnologia para a captação de imagens em movimento e sons está cada vez mais acessível – até com o celular é possível gravar audiovisuais – e os educadores estão mais e mais sensíveis às possibilidades pedagógicas desse recurso. E, nesse ponto, conhecer as Escolas Cinematográficas, se apropriar das características de cada movimento artístico por trás dos filmes, é uma boa maneira de produzir trabalhos com mais qualidade, mais repertoriados, mais referenciados, em sala de aula.

A última boa notícia é que o professor interessado no curso não precisa ser cinéfilo, nem conhecer as técnicas de gravação e edição de imagem e som e nem ter um projeto prévio de utilização prática desse aprendizado em sala de aula, “basta ter disponibilidade e vontade de aprender sobre a História do Cinema e as formas de uso e disposição para buscar qualificação, tanto como professor quanto como cidadão reflexivo”, finaliza Santos.

SERVIÇO
História do Cinema
Profs. Evandro Santos e Meire Oliveira Silva
Período: 1, 8, 15, 22, 29 de setembro, das 19h às 22h

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