"Recomendo o belíssimo O Carteiro e o Poeta (Il Postino, ITA/FRA/BEL, 1994, dir: Michael Radford). É uma ficção em torno do fato verdadeiro do exílio do poeta chileno Pablo Neruda na Itália. O carteiro, que mal sabia ler, sabia admirar a celebridade a cada entrega de cartas, tentando compreender o modo e vida e o que o fazia tão destacado. Nas tentativas de aproximação, é em torno da compreensão e da vivência das “metáforas” que se faz uma amizade, desenrola-se uma história de amor e de desabrochar da consciência política. Ao mesmo tempo, a assimetria das vivências salta quando as transformações políticas do Chile levam à partida do poeta daquela vila mediterrânea. A saudade que o carteiro sente do poeta e a indagação se seria correspondido no sentimento da falta, pela ausência, é pronunciada não em palavras, mas em imagens e sonoridades, trechos de uma beleza arrebatadora e inesquecível. Pode ser usado na alma, naquele canto que vive em busca de metáforas para que a vida fique mais bela e mais leve. Mas há alguns usos pragmáticos também, desde a própria questão das figuras de linguagem, a literatura e a história, até a reflexão ética da responsabilidade de quem desperta alguém para a vida política, muitas vezes sem atentar para as conseqüências que advirão de seu gesto. Mas para valer a pena, mesmo, o que recomendo é que se assista num final de tarde, sem falar mais nada depois, ficar ao lado de alguém capaz de dispensar palavras, curtir só a suavidade daqueles mares, da amizade e da admiração, da poesia feita imagem. No dia seguinte é bom refletir sobre o que despertamos em nossos alunos, quais as “metáforas” que damos a eles e que levam pela vida afora, saibamos nós ou não, que de repente até uma criancinha nascida por aí pode ter recebido nosso nome, numa homenagem que por pura sobrecarga da vida, acabamos por desconhecer. Para assistir com gratidão. Há uma história paralela que vale conferir, que é o destino do ator que faz o papel do carteiro, mas isso não conto, assim sobra um trabalhinho na internet para depois, para quem decida assistir".
ROSELI FISCHMANN - Professora da Faculdade de Educação da USP