15 de outubro. Com a palavra, os professores
Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo
Pontos de vista diversos e divididos. De um lado, os que acham que o 15 de outubro é um dia para refletir sobre a importância e a beleza do magistério. De outro, os que consideram a data apenas mais uma no calendário. Enquanto uma parte espera sim ser homenageada nesse no Dia do Professor, a outra parcela acha que o reconhecimento vem das respostas diárias e do exercício cotidiano da profissão. E assim, de opinião em opinião, o SINPRO-SP foi buscar a importância desse dia, ouvindo justamente os principais interessados – os próprios educadores. Apresentamos duas perguntas básicas: qual o significado contemporâneo do 15 de outubro? E qual a homenagem que você gostaria de receber? Com a palavra, os professores.
“Ter um dia é ser minoria. Tem dia do índio, da mulher, da criança. É a comprovação de que somos excluídos. Isso prova como os professores vêm perdendo o prestígio, principalmente da década de 70 para cá. Perdemos o prestígio do conhecimento, o prestígio social e até o respeito. É verdade que toda a sociedade perdeu um pouco o respeito, e isso se mostra com muita força na relação entre professores e alunos. É uma constante, principalmente entre estudantes crianças e jovens. Acredito que toda essa decadência vem em decorrência da desvalorização salarial do professor. Reduzir o salário foi a maneira que a ditadura militar encontrou de diminuir a resistência a ela. Menores salários, menor formação, menos tempo, menos conhecimento, menos confronto com o sistema. E essa submissão, que começou lá no regime militar, se arrasta até hoje, não mais em relação ao sistema, mas em relação ao FMI, ao Banco Mundial, e a todas essas políticas que prejudicam o professor e o tornam um ator de terceira ou de quarta categoria. Por isso é que, no 15 de outubro, o maior presente para os educadores seria que eles tivessem um tratamento de respeito e dignidade, tanto em seu dia a dia quanto na remuneração também.”
Maria Ângela Barbato Carneiro – Professora da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP)
“Poucos alunos se lembram de homenagear os professores. Eles gostam do dia porque não têm aula. A verdade é que um professor que impressione e que tenha como missão formar, e não apenas informar, esse fica marcado na vida do aluno e aí esse talvez receba uma mensagem em homenagem ao Dia do Professor. Mas eu leciono em quatro faculdades. Tenho centenas de alunos. Se um deles me disse – ou mesmo que não diga, mas que eu fique sabendo – que o que eu disse, numa aula, fez diferença na vida dele, aí eu ficarei muito gratificado. É claro que eu não tenho a pretensão de acender uma fogueira no coração de cada aluno, mas se eu proporcionar crescimento a um deles que seja, já estou altamente realizado.”
Antônio Carlos Malheiros – Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e professor de Direito da PUC-SP, Faculdade Padre Anchieta, Faculdade Rio Branco e Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul)
“O Dia do Professor tem um significado simbólico, representa o processo de conhecimento cumulativo. O professor é o repositório da continuidade das culturas, da história e da própria vida humana. Eu sempre digo que os alunos passam e o professor fica. Eu sou o mesmo, a matéria é a mesma, mas os alunos são outros. Então o dia 15 é dia de fazer a auto-crítica, pensar nas desilusões e nas gratificações, porque eu tenho certeza de que essa é uma profissão que, quanto mais o tempo vai passando, melhores vamos ficando, melhor fica o magistério. Hoje o profissionalismo do professor também merece reflexão. É tão importante que, mesmo com toda a tecnologia, nada substitui a figura do professor, nada suplanta esse papel. Então eu me sentiria muito homenageado se o 15 de outubro fosse o dia da consciência da cultura e da educação, se tirássemos o dia para pensar na qualidade da educação e do ensino e nas relações entre o magistério e a democracia.”
Francisco Alves – Doutor em História pela USP e professor de História do Colégio e Cursinho Objetivo e da Universidade Paulista (Unip)
“Não acho que o dia 15 de outubro seja especial não. Acho que é uma data comercial como as outras. Não acho que seja um dia para se pensar. Acredito muito mais no trabalho diário, nas conversas que temos todos os dias com os alunos e com seus pais. Ser reconhecido e homenageado tem muito mais ligação com o comprometimento, com a proposta e com as respostas que isso traz nas crianças e nos pais. Vejo meu trabalho reconhecido – e procuro estar atenta a isso – quando percebo desenvolvimento nos alunos e nas relações entre crianças, pais e professores. É isso que possibilita o um trabalho de um jeito mais legal.”
Ângela Calábria – professora do Ensino Infantil da Escola Alecrim
“Da pré-escola à universidade, todo mundo tem um professor que marcou sua vida. Zumbi devia ter boas lembranças de Padre Antonio de Melo, que lhe ensinou latim e, mesmo depois, estando em Palmares, escapava do cerco para visitá-lo. Cora Coralina falava, com carinho, da mestra Silvina, lembrando que sempre pedia a “bença” antes de entrar na sala. Poucas vezes reconhecido como deveria, geralmente, a única homenagem acaba sendo o dia de folga. O dia dos professores então, vai servir para eu expressar minha gratidão e boas lembranças àqueles que foram meus melhores mestres: entre vários caciques e pajés, minha gratidão a Ailton Krenak, Marcos Terena, Werá e Orlando Vilas Boas; entre vários sábios ciganos, minha gratidão a Leninha Monteiro; entre vários remanescentes das comunidades dos quilombos, a Edu Nolasco da comunidade S. Pedro, Eldorado. Uma homenagem para mim, nesse 15 de outubro, seria ver um aluno meu lixeiro, porém feliz e não um doutor infeliz.”
Nicolau Tupan-Na
Professor de História da Cultura Indígena e Brasileira da PUC-SP e Universidade Sant’Anna