Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo
As pessoas que se preocupam com o meio ambiente receberam, nos últimos dias, notícias que as deixaram um pouco mais apreensivas. O Fundo Mundial para a Natureza (WWF, em inglês) divulgou a lista das espécies animais e vegetais mais ameaçadas de extinção em todo mundo, em virtude da caça e do comércio não-regulamentado. Estão presentes nesse documento, por exemplo, a planta asiática "yew-tree" (Taxus chinensis, T. Cuspidata, T. fuana, T. sumatrana), que fornece uma substância química usada nos medicamentos contra o câncer, e o grande tubarão branco (Carcharodon carcharias), o vilão do cinema. A notícia dá conta ainda do perigo iminente para tartarugas focinho de porco, o tigre e o elefante asiático. Quase que simultaneamente, um grupo de pesquisadores do Instituto Botânico de São Paulo (IBt/SP) anunciou que o número de plantas que também vivem sob risco permanente no estado de São Paulo aumentou de 300 – o levantamento anterior havia sido feito em 1998 – para mais de mil espécies. A lista preliminar está recebendo os últimos ajustes e deverá ser divulgada em breve pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente, no “Diário Oficial”.
O que foi recebido com espanto pela população em geral apenas confirma o alerta que já vem sendo feito há alguns anos pelos ecologistas. “Essas listas são divulgadas periodicamente, pelo Ibama ou por organizações não governamentais, mas causaram desconforto maior dessa vez por causa dos tamanhos. São muitas espécies, e grandes animais”, destaca o biólogo e professor de ecologia da Faculdade SENAC, Zysman Neiman. Ele ressalta que os levantamentos são significativos, mas registros pontuais, e as preocupações devem ir muito além das novidades trazidas por eles. “É claro que esses documentos são importantes e necessários. Porém, mais do que saber quem e quando vai sumir, é preciso que a gente se dê conta da rapidez do estrago que estamos provocando”, completa Neiman, que também é diretor de uma ONG ligada à pesquisa e aos cuidados com o meio ambiente, a Physis.
A entidade acompanha a devastação gradativa do Cerrado e da Amazônia. “Muitos outros grupos se dedicam à Mata Atlântica, e bastante gente já cuida desse bioma. Por conta disso, a fiscalização e os cuidados aumentaram, e o sistema vem até se recuperando devagarzinho em alguns lugares”, explica o professor da Faculdade SENAC. Já o Cerrado e a Amazônia são duas vítimas da expansão das fronteiras agrícolas. Assim, pequizeiros, vegetação rasteira, jatobás e ipês vão dando lugar a pasto, bois, porcos e vastos campos de soja. A situação dá contornos mais claros ao real problema, de acordo com Neiman: a opção das políticas públicas brasileiras por um modelo econômico, e não ecológico, de certa forma imposto pela força dos produtores rurais. “Acreditam que desenvolvimento e preservação são incompatíveis. Essa é uma idéia já superada no mundo inteiro há muito tempo”, completa.
Se o problema é muito mais grave e profundo, então para que servem as listas de espécies ameaçadas? “Servem, em primeiro lugar, para despertar a atenção das pessoas”, responde o diretor da Physis, no que tem a concordância imediata do professor de Ciências e Biologia do Colégio Rio Branco, Roberto Araújo. “Toda vez que uma notícia como essa sai na imprensa, as aulas esquentam”, revela. Enquanto seus alunos menores ficam muito tocados, com pena dos bichinhos, os maiores afrontam a importância das informações. Os adolescentes não entendem muito que diferença faz se o elefante, que nem habita o Brasil, ou se um mato, que não serve nem para chá, desaparecerem.
O professor da Faculdade SENAC também encontra essas duas reações no contato com seus alunos e com o público da sua ONG e confessa que fica satisfeito quando isso acontece. “Se mostram alguma reação, qualquer que seja, já é o primeiro passo para a conscientização e para a gente chegar ao estágio de conhecer os problemas reais do meio ambiente”, explica. Araújo completa: “Se o aluno se emocionou, ou se incomodou, é um bom sinal de que trazer a ciência da vida real para a sala de aula pode ser um ponto de partida interessante”. Outro ponto em que ambos concordam é que a saída tanto para a redução do número de espécies presentes nas listas quanto para que as pessoas comecem a exigir soluções para os problemas que esses documentos apontam está na educação e na informação. “Só elas são capazes de semear novas mentalidades”, respondem em coro.
Neiman aposta na pesquisa científica e na sua divulgação e também na educação ambiental, principalmente em São Paulo, onde a população está imersa num ambiente totalmente urbano. “É difícil fazer entrar na cabeça e no coração de um garoto que o Rio Tietê podia sim ser a praia dos paulistanos, e apontar os estragos que cidades como a nossa causaram, fazendo seus rios chegar a essa situação de poluição e degradação”, destaca. O professor do Rio Branco coloca suas fichas na educação formal, alimentada pelos dados da realidade. Segundo ele, o conteúdo programático tradicional das disciplinas, aliado às novidades, representa a situação ideal, porque amplia a visão de mundo de professores e alunos. Araújo levanta ainda um outro ponto que, quando tocado, sempre dá bons resultados. “Procuro falar para eles da importância da redução do consumo. Provo que comprar menos embalagens, gastar menos água, jogar menos comida fora, tudo isso vai, lá na frente, preservar nosso meio ambiente”, explica. Ou seja, os alunos de Araújo – que vivem no meio urbano - começam assim a compreender a necessidade de preservação das espécies e sua relação com o sistema econômico. “Quando essa soma é feita em consonância com o projeto pedagógico, o resultado que mais se vê é aquele aluno, no início indiferente, pouco a pouco se tornar um defensor do meio ambiente”.
SERVIÇO
WWF – www.wwf.org.br
Physis – www.physis.org.br
Instituto Botânico de São Paulo - www.ibot.sp.gov.br