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Muito além de Indiana Jones

Estação móvel leva arqueologia a cidades do centro-oeste e nordeste brasileiros

por Elisa Marconi e Francisco Bicudo

“A arqueologia deve ir aonde o povo está”. Foi com essa idéia na cabeça, uma adaptação de uma das mais famosas canções de Milton Nascimento, que o arqueólogo Paulo Zanetinni desenvolveu o projeto do Arqueobus. “É um ônibus mesmo, capaz de se deslocar por onde acharmos necessário, e que tem como missão dar apoio a projetos de pesquisa, que envolvem o levantamento, diagnóstico e resgate do patrimônio cultural brasileiro”, explica o idealizador da criativa iniciativa.

O veículo, na verdade, é uma estação móvel. Pode abrigar até onze pesquisadores, e dispõe de camas, banheiro, cozinha e área para refeição, além de laboratórios e uma ilha de edição de vídeo. E, a cada cidade visitada, o Arqueobus tem ainda a possibilidade de criar e construir outros espaços de visitação, já que lonas e armações simples que ele carrega se transformam em áreas de exposição, anfiteatros para palestras, salas de exibição e laboratórios de informática.

Centro de referência
Assim, o que deveria ser apenas uma plataforma de apoio às pesquisas tornou-se um centro de referência sobre a profissão e a carreira de Arqueologia – ou seja, o Arqueobus funciona tanto “para dentro”, atendendo às necessidades dos pesquisadores, quanto “para fora”, dialogando com a sociedade. “Visitando o ônibus adaptado, as pessoas começam a entender que arqueologia é muito mais do que aquilo que o Indiana Jones fazia. Não vivemos atrás do Santo Graal”, conta Zanetinni, referindo-se aos filmes do diretor Steven Spielberg.

Para que os visitantes do veículo se aproximem dessa área do conhecimento, a equipe do ônibus se aproveita de uma característica nacional bastante comum. “Os brasileiros são naturalmente curiosos. Quando chega um ônibus como esse, todo mundo corre para ver do que se trata. Quando descobrem que aquilo é uma casa, aí querem entrar, ver como é, como tudo funciona”, brinca o arqueólogo. E o resultado do voyerismo é um contato maior com a arqueologia e com nossas raízes culturais.

Em agosto de 2004, Campinas, no interior de São Paulo, acolheu a primeira parada da estação móvel. A equipe de arqueólogos estava desenvolvendo um trabalho de resgate cultural no subsolo do município. Escavaram para buscar referências e marcas relativas ao período anterior à data oficial de fundação e também aos primeiros anos de existência e de organização do município. O Arqueobus ficou dez dias na cidade e recebeu a visita de mais de 50 mil pessoas, ultrapassando até as expectativas mais otimistas. “Isso prova que basta disponibilizar a informação que a população se interessa e vai”, comemora Zanetinni.

Do interior paulista, o ônibus arqueológico rumou para Cuiabá, no Mato Grosso. Lá os arqueólogos estão desenvolvendo uma pesquisa no Vale do Guaporé, mais precisamente na região de Vila Bela. Os trabalhos naquela área buscam exatamente reconstituir uma parte do passado do país que anda esquecida. O idealizador do Arqueobus conta que Vila Bela é considerada a Brasília do século XVIII. “Ela foi totalmente planejada e projetada na Europa e é um dos pontos mais altos da ocupação lusitana no Brasil”, explica. O que estão escavando reconta a história do país sob a perspectiva continental, da interiorização, e não do litoral, como estamos acostumados.

“Aí chegamos à pré-história, à ocupação indígena, aos africanos, aos arraiais de mineração, fortificações militares e às questões das fronteiras”, enumera Zanetinni. Isso prova que a arqueologia pode literalmente trazer à tona as raízes mais profundas das comunidades de cada lugar. Também em Cuiabá a resposta da população ficou acima do esperado: mais de três mil pessoas visitaram as instalações do Arqueobus.

”Totem multi-meios”
Nesses seis meses de trabalho, o Arqueobus já percorreu quinze mil quilômetros e foi visitado por mais de 75 mil pessoas. Com esse currículo, deixou de ser apenas uma estação de apoio para se tornar, como a equipe de arqueólogos gosta de chamar, um totem multi-meios. As exposições, palestras, workshops, exibições, os laboratórios de análises e de informática são uma maneira de oferecer à sociedade um mínimo de retorno sobre os recursos que ela própria investe, por meios dos impostos.

As próximas paradas já previstas são Goiás, Brasília/DF, novamente Vale do Guaporé e, no segundo semestre de 2005, a intenção é cruzar latitudes para escavar Canudos, no sertão da Bahia, onde aconteceu a famosa Guerra de Canudos (1893 a 1897). “Retribuímos o apoio da população ajudando a resgatar a memória e a cultura de cada lugar”, agradece Zanetinni.

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