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Companheira Física

Por Francisco Bicudo e Elisa Marconi

O século XX mal havia começado quando um jovem e talentoso cientista, que, não demoraria muito, seria chamado de genial, literalmente revolucionou o conhecimento que se tinha sobre a Física. Foi em 1905 que o alemão Albert Einstein (1879-1955) publicou os três artigos que até hoje são reconhecidos como marcos fundadores da Física moderna. No primeiro deles, Einstein, que conquistaria o prêmio Nobel em 1921, analisava os fótons e mostrava que a luz também pode se comportar como partícula, e não apenas como onda. O segundo falava sobre a relatividade específica e discutia o conceito de espaço-tempo, tese que daria origem à teoria da relatividade geral. O último destacava a relação entre massa e energia, consagrando e popularizando a famosa fórmula E = mc².

Um século depois, os físicos contemporâneos querem aproveitar as comemorações previstas pelo “Ano Internacional da Física” – chancelado pela ONU (Organização das Nações Unidas) e pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) – para relembrar a importância dos feitos de Einstein, popularizar a disciplina e mostrar que ela faz parte do nosso cotidiano, ainda que muitas vezes não seja percebida. “É momento de reforçar a importância da ciência, de combater um certo analfabetismo científico que ainda existe no país”, afirma Adalberto Fazzio, presidente da Sociedade Brasileira de Física. “Comportamento dos átomos, origem do universo, organismos transgênicos e nanotecnologia são assuntos que fazem parte de nossas discussões cotidianas, mas que, não raro, acabam sendo apropriados por discursos políticos. É preciso divulgar a ciência que sustenta esses temas e avanços”, completa o pesquisador, que é também professor-titular do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF/USP).

Cenário de crise
O desafio de popularizar a Física e de apresentar sua magia e encantos, no entanto, parece não ser tão simples. Dados divulgados pelo Ministério da Educação, relativos a 2003, revelam que faltavam, naquele momento, aproximadamente 55 mil professores de Física no ensino de 5ª a 8ª série e no ensino médio. De acordo com o Ministério, entre 1990 e 2001, apenas sete mil universitários haviam se formado em Física. Para Fazzio, a baixa remuneração oferecida pela maior parte das escolas é uma das principais razões para o cenário de crise e fuga. “É preciso investir na formação de recursos humanos e valorizá-lo dentro da sala de aula, inclusive com salários mais dignos”, alerta. Ele lamenta uma realidade bastante conhecida pela categoria: salas cheias, excesso de aulas, horário preenchido em mais de uma instituição, docência como atividade complementar de outros empregos principais, ausência de infra-estrutura adequada. Para o pesquisador, não é possível ensinar Física em duas horas-aula semanais.

Além disso, reforça, é uma disciplina que deve ser aprendida na prática, com experimentos, em laboratório – e muitas escolas não oferecem essa oportunidade. Quando aparece dissociada da realidade cotidiana, o encanto se quebra, e consolida-se nos alunos a falsa idéia de uma disciplina chata, sem significado, cinzenta – e, pior, repleta de contas e fórmulas incompreensíveis e difíceis de serem aprendidas. “Se o aluno conseguir perceber a aplicação prática, o impacto e os benefícios que ela traz, ele certamente será capturado pelos encantos da Física”, garante o professor.

Fazzio usa exemplos simples para mostrar como a Física é nossa companheira diária. O forno de microondas, os aparelhos de raio-X, de CD e de DVD, a informática, a genética, os alimentos transgênicos, o magnetismo – tudo isso passa pela Física, de maneira mais ou menos intensa. Desde as premissas apresentadas por Einstein, em 1905, ele acredita que houve significativos avanços na área, e destaca o entendimento a respeito da natureza da matéria e o comportamento das partículas como um dos segmentos que mais evoluiu nestes 100 anos. Outros setores onde os ganhos são evidentes referem-se à genética (os projetos genoma são a expressão máxima do processo) e aos exames com imagem, na medicina – ressonância magnética, ecografia, cintilografia. O presidente da Sociedade Brasileira de Física reforça ainda o conhecimento que se tem acumulado sobre a origem do universo e sobre os elementos que o compõem.

Para ele, no outro extremo, dois desafios principais se anunciam. De um lado, os cientistas já conseguiram compreender, com relativa consistência, como a nanotecnologia pode funcionar. O passo seguinte é transformar a ciência em tecnologia. “Ainda não sabemos como criar instrumentos minúsculos que possam transportar, pelo organismo humano, substâncias capazes de combater determinados tipos de tumores”, exemplifica. Além disso, o universo, com suas estrelas, galáxias e complexos buracos negros, e apesar de todo o avanço do conhecimento, muitas vezes ainda acaba se apresentando como um ilustre desconhecido para a ciência. “Não sabemos do que é feita a chamada matéria escura”, admite.

No entanto, o desafio maior da Física, como reconhece Fazzio, é mesmo encontrar a chamada “teoria do tudo” – princípios científicos que consigam unir e articular a causalidade das teorias de Einstein (que tratam dos fenômenos em grande escala) com a probabilística da mecânica quântica (que se dedica a estudar o universo subatômico, das micro-relações, o chamado “mundo pequeno”). “A Teoria das Cordas (que trabalha com a perspectiva de que o espaço-tempo se dividiria em onze dimensões e que as partículas físicas mais elementares se apresentariam como cordas, e não como pontos) é uma das que tenta unir as duas pontas. Há especialistas que acreditam que, em quinze anos, será possível atingir esse estágio”.

Idealizada pelas diversas sociedades de física do mundo, em 2002, a proposta de criação do “Ano Internacional da Física” foi abraçada pela IUPAP (International Union of Pure and Applied Physics) no ano seguinte, para então ser oficializada pela ONU e pela Unesco, em 2004. No Brasil, as comemorações começaram com o XVI Simpósio Nacional de Ensino de Física, ocorrido no Rio de Janeiro, entre os dias 24 e 28 de janeiro. O livro “Física para o Brasil”, organizado por 18 físicos, pesquisadores e educadores, também já foi lançado. Até o final de 2005, estão previstas atividades como exposições, seminários, simpósios, debates, mostras de filmes e parcerias com escolas – tudo para, 100 anos depois da revolução provocada por Einstein, reforçar a idéia de uma Física companheira, encantadora e fortemente presente em nosso dia-a-dia.

Links relacionados
Sociedade Brasileira de Física
XVI Simpósio Nacional de Ensino de Física
Estação Ciência - USP
Laboratório Didático Virtual - USP
UniEscola - UFRJ
International Union of Pure and Applied Physics

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