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Um para a física, outro para a química

Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo

A primeira semana de outubro bem que poderia ser chamada de a “Semana do Prêmio Nobel”. Afinal, foi entre os dias 3 e 7 deste mês que conhecemos os ganhadores dos mais famosos prêmios científicos do planeta, nas áreas de Química, Física e Medicina, isso sem falar no anúncio do mais do que cobiçado Nobel da Paz, entregue neste ano ao egípcio Mohamed El Baradei, da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Na área das ciências exatas, uma tendência, já manifestada nas últimas edições pela Real Academia Sueca>, salta novamente aos olhos: a de premiar pesquisas que tenham evidente potencial de aplicação prática, ainda que a longo prazo.

Na área de Química, foram contemplados o francês Yves Chauvin e dois norte-americanos, Robert H. Grubbs e Richard R. Schrock. Os três, que atuam em dois projetos independentes, desenvolveram aplicações para a metátese na produção de fármacos e de plásticos avançados. A metátese é uma reação em que cadeias duplas de átomos de grupos similares revezam-se entre si, como se participassem de uma dança em que os casais, ao ritmo da música, trocam de par. Essa maneira graciosa de explicar a escolha reforça a preferência da Academia por estudos que desemboquem em técnicas que possam ser utilizadas na indústria, ou em outros processos tecnológicos existentes. “A metátese já vem sendo utilizada na indústria petroquímica”, conta o professor de Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Thimoty John Brocksom. Para ele, o grande feito específico dos norte-americanos premiados foi praticamente eliminar as restrições ao uso da metátese. “Apesar de ser uma reação química utilizada há décadas pela indústria, ainda havia severas limitações de eficiência e aplicabilidade geral. Com as descobertas de novos catalisadores por Schrock e Grubbs, torna-se possível uma utilização muito mais ampla” explica.

Na física, destaca na óptica quântica
Com a Física não foi diferente. Os ganhadores do Nobel deste ano, os americanos Roy Glauber e John Hall, e o alemão Theodor Haensch, atuam na área de óptica quântica. Glauber conseguiu elaborar uma descrição teórica do comportamento das partículas de luz – os fótons; já Hall e Haensch desenvolveram um espectroscópio de precisão baseado nos raios laser. Trata-se de um equipamento que permite determinar a cor da luz de átomos e de moléculas com extrema sensibilidade. Os dois trabalhos encantaram a Academia, justamente porque trazem uma contribuição à teoria quântica e também porque prometem trazer aplicações práticas para as telecomunicações e para o geoposicionamento – que atua na localização de objetos que vão desde focos de desmatamento até veículos perdidos.

“O espectroscópio é um aparelho conhecido já há bastante tempo e serve para atestar características de átomos ou partículas. O que o Nobel deste ano fez foi premiar um estudo clássico da Física, com uma utilização bem atual”, comenta o professor de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nelson Velho de Castro Faria. Embora o estudo dos espectroscópios não seja exatamente novo, o especialista garante que ele tem importância, principalmente porque direciona o olhar de pesquisadores, professores e estudantes para uma área, a óptica quântica, que “parece ficção científica, mas que já vem sendo experimentada de verdade”, brinca.

Como contribuição para as telecomunicações, Castro Faria acredita que o trabalho de Glauber pode acelerar, por exemplo, o uso do teletransporte. “O problema é que, quando a gente fala em teletransporte, as pessoas só lembram daqueles personagens que, ao vestirem uma capa, somem e aparecem imediatamente em outro lugar”, comenta. Apesar do cuidado do professor em diferenciar as pesquisas com teletransporte de partículas da magia do cinema de ficção, na prática as experiências não são muito diferentes. Ele conta que, na Alemanha, os pesquisadores já conseguem fazer uma partícula, que está de um lado de um rio, desaparecer e aparecer em frações de segundo na outra margem.

Então o trabalho premiado com o Nobel levaria à mesma possibilidade com seres humanos? Castro Faria ri de novo e afirma que isso, hoje, ainda é impossível, porque um fóton é uma estrutura infinitamente mais simples que o corpo humano. Outra possibilidade de aplicação dos estudos, de acordo com o professor da UFRJ, é usar a informação quântica para criptografar mensagens. “O que viria bem a calhar em tempos de internet. Informação criptografada é informação segura”, completa.

Na sala a de aula
Mas, se por um lado, o Nobel ajuda a atrair os olhares da comunidade científica e dos professores e estudantes de Física, por outro lança um desafio. Para Castro Faria, se o professor tiver competência e conhecimento suficientes, conseguirá fazer uso das escolhas do Nobel para mostrar aos alunos que a Física “é viva e não só uma coisa lá dos tempos de Newton”, provoca. E, se isso for realmente bem feito, os alunos, mesmo os do ensino médio, poderão experimentar o grande prazer que é a Física. Para o professor da UFRJ, essa ciência deve se responsabilizar, atualmente, por cativar os mais novos, propondo-se a explicar fenômenos simples, do cotidiano, mas que até agora não têm uma explicação convincente. “Os estudos mais profundos ligados às moléculas ajudarão a entender desde o funcionamento da aspirina no organismo humano até os mecanismos ligados ao DNA e aos genes”, aposta Castro Faria.

Para a Química, a fórmula parece ser a mesma. O professor da UFSCar, Timothy Brocksom, diz que, para entender a real importância dos trabalhos que ganharam o Nobel, o aluno precisa de uma certa bagagem conceitual, na tentativa de compreender essa dança das moléculas. Por outro lado, conclui o pesquisador, “pode ficar devidamente entusiasmado pelos resultados fantásticos obtidos com as moléculas dançarinas”.

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