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Cassação de Dirceu, Palocci enfraquecido...como fica a reeleição de Lula?

Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo

O capitão do time perdeu a faixa – e o mandato de deputado federal. O ex-guerrilheiro, ex-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, ex-ministro-chefe da Casa Civil e ex-homem forte do governo Lula é agora também ex-parlamentar. É verdade que, graças a algumas articulações internas e a uma série de recursos apresentados ao Supremo Tribunal Federal (STF), José Dirceu conseguiu adiar a degola; mas, na sessão da Câmara de 30 de novembro - já era, na verdade, quase 1º de dezembro –, acabou cassado, acusado de chefiar o suposto esquema do mensalão. Foram 293 votos favoráveis à perda do mandato, e 192 contrários. “O impossível aconteceu. O líder estudantil, o mito de uma geração, o principal líder do PT, o homem forte da República está fora da vida pública por intermináveis dez anos”, escreveria a colunista Eliane Catanhêde, na “Folha de S. Paulo” do dia 1º. “É como uma sentença de morte”, confirmaria Dirceu, em entrevista coletiva realizada na tarde do mesmo dia.

Classificando o julgamento e a decisão como políticos, e alegando sempre que não há provas da suposta ligação dele com o esquema de corrupção popularmente conhecido como “valerioduto”, Dirceu garante ter as mãos limpas e promete não abandonar a política. É verdade que fica inelegível por oito anos e só poderá voltar a concorrer a cargo eletivo em 2016, quando terá 70 anos. Mas, no PT, já se discute abertamente o papel que deverá cumprir no partido a partir de agora. Certamente, ainda dispõe de cacife político e poder mais do que suficientes para influenciar, por exemplo, a escolha e indicação de diversos candidatos que deverão disputar, no ano que vem, cargos de governador, senador e deputados. Nesse sentido, muitas decisões, bênçãos e vetos passarão pelo seu crivo. Mas, e o governo Lula? Como fica a administração federal na era “pós-Dirceu”? Mais ainda: sem poder contar com uma de suas estrelas de primeira grandeza e referência na construção do projeto político que o levou ao primeiro mandato, e no momento em que o último reduto de calmaria de sua administração – a economia comandada por Antônio Palocci – apresenta sinais de tormenta e resultados negativos, de que maneira o Presidente da República pretende organizar seu discurso e projeto de reeleição?

Impactos negativos a longo prazo
De acordo com os analistas políticos, e essa parece ser uma análise consensual, a cassação de Dirceu representa, para o governo, a perda da segunda perna do tripé que sustentou seu projeto original de poder. A primeira baixa teria sido o calvário de Luiz Gushiken, também envolvido com as denúncias de corrupção e de caixa 2, e deslocado da condição de ministro e da posição de uma das eminências pardas do governo. Pior: a terceira perna – Palocci – já não seria mais intocável, e sua blindagem estaria gradativamente sendo desconstruída. “Num primeiro momento, a cassação do Zé Dirceu é favorável para o governo, pois neutraliza a turbulência. Se não acontecesse dessa forma, a oposição ficaria mais agressiva, e a opinião pública, frustrada”, afirmou o cientista político Fabio Wanderley dos Reis ao programa “Painel”, da “Globonews”, exibido no sábado, dia 3.

No longo prazo, no entanto, o analista, também professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acredita que a derrota de Dirceu trará impactos negativos para a reeleição do presidente Lula, já que a queda do ex-parlamentar se dá em um cenário que revela um PT desmotivado e esfacelado, além de uma oposição interessada no contínuo “sangramento” do presidente. “Acho que a crise ainda terá novos capítulos”, acredita. “A cassação de José Dirceu encerrou um ciclo confuso das relações políticas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o Congresso Nacional, mas está longe de amenizar a crise política detonada pelas denúncias feitas, há seis meses, pelo ex-deputado Roberto Jefferson. As comissões parlamentares de inquérito dos Correios e dos Bingos ainda investigam as ligações do esquema de distribuição de dinheiro comandado pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o empresário mineiro Marcos Valério. Polícia Federal e Ministério Público também estão a todo vapor”, escreve o repórter Leandro Fortes, na edição da última semana da revista “Carta Capital”.

Disputa acirrada em 2006
Com a crise política se prolongando e invadindo o calendário eleitoral, e sem o seu principal mentor e articulador político, Lula teria de recorrer, em um primeiro momento, a seu capital eleitoral histórico – cerca de 30 % do eleitorado, uma espécie de reduto lulista cativo. Trata-se de uma reserva significativa, que faz do presidente um candidato forte. Mas não será um patamar suficiente para garantir a vitória, principalmente em um cada vez mais provável segundo turno. “Em 2002, Lula foi portador de esperanças e de expectativas enormes. Encontrou espaço no discurso da mudança e recebeu o apoio, por exemplo, de setores do empresariado e da classe média, agregando à sua candidatura segmentos até então resistentes a ela”, recordou o cientista político Bolívar Lamounier, no debate organizado pelo “Painel”. “No entanto, com a crise e a má gestão, a falta de imaginação na área social e a manutenção da política econômica do governo anterior, o presidente perdeu metade daquele capital. Vale lembrar que a campanha de 2006 será muito acirrada, o que poderá dificultar, em um segundo momento, a governabilidade. E fica ainda a pergunta: com qual base política parlamentar Lula pretende trabalhar em um segundo mandato, já que boa parte de seus aliados está envolvida com as denúncias de corrupção?”, completa. Ainda no debate exibido pela “Globonews”, a análise de Reis caminhou no mesmo sentido. Para ele, o que aconteceu em 2002 foi um cenário bastante positivo, pois Lula conseguiu conciliar seu simbolismo popular e sua viabilidade eleitoral com o compromisso ético e social, bandeiras históricas do PT. Com a crise, o governo não tem mais seu principal operador político, a figura de Lula se desgasta, perde sua alma e seu carisma, e o PT vê destroçado o seu patrimônio ético. “Será, portanto, uma campanha muito complicada”, reforça.

E pode ser ainda mais complicada se olharmos para o desempenho da economia, que, navegando em mares virtuosos e de boas notícias, poderia representar uma espécie de anteparo e de antídoto para a crise, cumprindo o papel de principal cabo eleitoral do presidente. A estabilidade, a inflação baixa e o crescimento econômico dariam o tom dos discursos de Lula, que não se cansa de repetir que, apesar das denúncias e da crise política, os fundamentos da economia nacional continuam sólidos e consistentes. O debate econômico seria, segundo essa análise, a grande vedete e estrela da campanha petista. O sinal amarelo, no entanto, acendeu no dia 30 – por coincidência, mesmo dia em que Dirceu foi cassado. Levantamento feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que o PIB (Produto Interno Bruto) encolheu 1,2% no trimestre julho-setembro de 2005, em relação ao mesmo período do ano passado.

Graças a essa queda, a economia brasileira deverá crescer, em 2005, apenas 2,5% -- número considerado pífio e que fica bem aquém das projeções iniciais (4%), também já consideradas extremamente modestas. Não demorou muito para que o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, alvo de denúncias apuradas pelas CPIs, entrasse na linha de tiro também por conta de suas opções de política econômica. Para muitos analistas, a taxa de juros, que reduz investimentos, segura o consumo e gera desemprego, seria a grande responsável pela queda no PIB. “A crise política pode ter adiado investimentos e provocado hesitações, mas o não crescimento da economia está associado diretamente à taxa de juros, à política monetária, que provocam a frustração do setor produtivo e a inibição do consumo”, garantiu o economista Roberto Gianetti da Fonseca, no “Painel”.

Juros altos: dose exagerada
Segundo Bolívar Lamounier, o aperto na política monetária era necessário no início de 2003, quando o Banco Central começou a subir os juros para garantir a estabilidade inflacionária. O cientista político lembrou, no entanto, que o governo exagerou na dose, e os juros atingiram níveis estratosféricos. Para ele, teria de haver uma correção, que começa a ser feita agora, mas cujos impactos ainda não podem ser sentidos. “O problema é que os resultados ruins na economia coincidem com a crise política. E o governo abre dois flancos para as críticas: o envolvimento com a corrupção e a política econômica”, completa. “Foi possível cumprir a meta de inflação. Mas a que custo? Esse é o ponto central do debate. Cada ponto da taxa de juros corresponde a cerca de oito bilhões de reais, transferidos do social e do setor produtivo para o sistema financeiro. Com essa taxa de juros, portanto, a queda do PIB era previsível”, acrescentou Gianetti.

Para os analistas, esse cenário enfraquece Palocci, já não mais visto como imprescindível ou insubstituível – embora o presidente Lula insista em compará-lo ao craque Ronaldinho Gaúcho. O fato é que, se os resultados econômicos não forem no mínimo satisfatórios, o grande trunfo eleitoral de Lula para 2006 também terá sido pulverizado. Restaria ao presidente a possibilidade de uma última cartada – o contato direto com as massas marginalizadas, as camadas menos favorecidas da população, beneficiadas pelos programas sociais do governo. É por isso que fica aberto o espaço para que as críticas surjam de dentro do próprio governo – o “fogo amigo” da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, que exige mudanças na condução da economia, abrindo espaço para mais investimentos. “Percebendo esse alerta oferecido pelos números, e aproveitando o enfraquecimento do Palocci, Lula pode querer aliviar o aperto e começar a gastar. O discurso da Dilma serve a esse propósito. Ela se consolidou como a porta-voz dos chamados desenvolvimentistas”, afirmou Bolívar.

Com o governo enfraquecido nas áreas política e econômica, e com a oposição sedenta por retomar o poder, o Brasil pode assistir, em 2006, a uma das mais acirradas, aéticas, destrutivas e fraticidas disputas eleitorais de sua história. O andamento das CPIS pode acrescentar novos elementos à crise, revelando, por exemplo, a origem do dinheiro que abasteceu o caixa 2 petista. Na outra ponta, a atual administração não esconde dos adversários que a indústria dos dossiês também poderá respingar sobre a oposição. Nesse cenário, tanto PT quanto PSDB sairiam das eleições bastante comprometidos e enfraquecidos. “O que mais angustia e causa preocupação é essa disputa insana e sem limites abrir espaço para uma terceira via, um candidato populista e autoritário. Aí sim teríamos o risco do desconhecido”, alerta Gianetti.

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