Especialista analisa as possibilidades de aplicação contemporânea da teoria freudiana
Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo
A direção da Sociedade Brasileira de Psicanálise (SBP) inaugurou, no dia 6 de maio, uma exposição com um nome no mínimo curioso: Um modesto sábio vienense chega a São Paulo. O evento é uma das atividades que marca as comemorações dos 150 anos de nascimento de Freud e pretende resgatar o início dos caminhos percorridos pela psicanálise no Brasil. “Através da história e da trajetória dos primeiros psicanalistas e de estudiosos da teoria freudiana, reconstituímos um tempo revolucionário para o país e para o mundo”, conta a diretora de documentação e história da SBP, Maria Ângela Moretzshon. “Eles foram os responsáveis pela difusão em nosso país de idéias freudianas que alteraram drasticamente a visão do homem sobre si mesmo”, completa.
Passeando entre cartas, fotos, textos e documentos históricos que remetem à fundação da Sociedade, em 1927, é possível compreender com mais detalhes porque, de certa forma e levando em consideração alguns critérios, é possível dividir a sociedade ocidental em antes e depois de Freud. Os debates por correspondência entre o médico austríaco e o fundador da SBP, Durval Marcondes, nas décadas de 1920 e 1930, por exemplo, são exemplos concretos de como idéias nunca antes imaginadas puderam se transformar em interpretações tão poderosas. “Quem quiser conhecer de perto essas idéias pode visitar a exposição”, brinca e convida Maria Ângela.
Na verdade, ela se refere a conceitos como inconsciente, ego, superego, id, sublimação, repressão, complexo de Édipo, neurose e sexualidade que, de maneira bastante simplificada e resumida, sugerem que o homem tem uma dimensão extremamente poderosa, que muitas vezes não consegue controlar. Nessa dimensão é que se encontram os desejos, as pulsões e uma série de significados e sentidos para a vida. Também nela é que estão os potenciais mecanismos de controle desses instintos todos. E aí estão duas das chaves mais importantes para se entender porque a psicanálise chocou e surpreendeu tanta gente. A primeira: é fundamental reconhecer que possuímos uma parte irracional e incontrolável, o que faz do homem um ser muito próximo dos animais. Depois de toda a tradição racionalista do século XIX, essa informação causou furor. A outra chave é que, por outro lado, nessa parcela animalesca do homem, há também o cerne da organização social, o controle, a regra, o limite, o contrato. E tudo isso junto acaba por fornecer as maiores ferramentas para o que se convencionou chamar de Cultura. Ou seja, da soma das estruturas inconscientes com as normas de conduta nasce a sociedade civilizada e suas expressões culturais.
Teoria atual
Mas há ainda outras razões para a psicanálise, uma teoria secular, permanecer atual. “Uma delas é que a teoria de Freud veio sendo atualizada. Ele teve discípulos que repensaram conceitos. E, mais importante, é uma teoria que não se limitou aos consultórios. As práticas psicanalíticas vêm sendo experimentadas e aplicadas desde a criação da teoria”, explica a educadora Lucília Bechara Sanches.
Lucília é professora há mais de 40 anos e ensina matemática desde os tempos dos sepultados ginásios vocacionais (década de 1960). Atualmente, atua como diretora pedagógica da Escola Vera Cruz. Mas há um outro trabalho muito interessante desenvolvido por ela que mostra exatamente uma dessas aplicações possíveis para a teoria do velho Freud. Trata-se da ponte entre Psicanálise e Pedagogia. Ou, em outras palavras, a aplicação da teoria e da prática psicanalítica na escola e na sala de aula. Os melhores trechos da conversa que discute essa relação você acompanha ao clicar no link abaixo.