Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo
Foi com certa surpresa que sociólogos e teólogos receberam os discursos propagados pelo Papa Bento XVI em sua visita ao Brasil, ocorrida entre 10 e 13 de maio último. Os especialistas apostavam que Josef Ratzinger falaria primordialmente sobre a perda de fiéis para as igrejas evangélicas e chamaria de volta seu rebanho, na tentativa de conter esse problema. Mas não foi bem isso que aconteceu. A professora de Sociologia da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Maria José Rosado, admite que o Papa até tocou nessa questão, mas apenas indiretamente. Segundo a especialista, Bento XVI preferiu pregar sobre o que é ser católico, reafirmando a doutrina e as normas de conduta que o bom católico deve ter. Chegou a afirmar, lembra a professora, que “prefere poucos católicos, mas bons, a uma massa de católicos ruins”. Bento XVI condenou veementemente o aborto, o segundo casamento, a perda da virgindade antes do casamento, a contracepção e todas as atitudes que afrontem as regras do catolicismo.
Mas, se o discurso do papa de alguma maneira surpreende, também causaram espanto as reações a essas pregações. É verdade que massas de milhares de fiéis acompanharam o pontífice em cada ponto de parada. Mas é verdade também que Bento XVI desembarcou no Brasil em tempos de discussão a respeito do aborto, de sua descriminalização ou não; da excomunhão ou não de médicos que venham a praticar a interrupção da gravidez. E acabou tendo como resposta “uma posição firme do Estado Brasileiro e uma postura até que avançada da população nacional”, garante Maria José. E não para por aí. Especialistas em Direito questionaram a Concordata – um acordo multilateral – que estaria em negociação entre o Brasil e a Santa Sé. Historiadores e militantes das causas indígenas se pronunciaram contra a fala do papa, quando este afirmou que não teria havido imposição do catolicismo para os índios. E, por fim, mesmo sob toda a discussão a respeito da religião, das doutrinas católicas, das práticas cristãs, “o Brasil acabou por reafirmar que é um Estado laico. Ou seja, que respeita e trata com igualdade todas as religiões existentes”, comenta a professora da PUC-SP.
O SINPRO-SP conversou com Maria José Rosado, que também é uma das coordenadoras do grupo “Católicas pelo Direito de Decidir”, para refletir sobre a visita e a mensagem deixada por Bento XVI em sua visita ao país. Os melhores trechos dessa conversa você acompanha aqui.