Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo
Quando se recebe um convite para o lançamento de um livro sobre o café e as ferrovias paulistas é quase impossível escapar das memórias constituídas ainda no tempo da escola. As plantações, os imigrantes, os barões do café e seus casarões na Avenida Paulista, as estações ferroviárias ressurgem vivos na lembrança. Folheando já as primeiras páginas do recém-lançado Café e expansão ferroviária, de Guilherme Grandi, da editora Annablume, pode-se repassar todo esse cenário, mas com um componente ainda mais interessante. Em vez de cada um desses elementos aparecer de forma isolada e fragmentada – como infelizmente muitas vezes se aprende na escola –, como se cada um desses atores não interferisse no outro e na história como um todo, o autor desvela contextos e relações estreitas estabelecidas entre o ciclo do café e as ferrovias e toca ainda nas conseqüências políticas e sociais dessa dinâmica.
Não que seja uma novidade o fato de haver negociações econômicas (de todas as espécies) nos bastidores de grandes acontecimentos da história do Brasil, mas conhecer com mais detalhes como elas foram feitas ajuda, certamente, a entender melhor o funcionamento da tríade economia – sociedade – política em terras brasileiras. E, a partir do resgate da trajetória do ramal de Rio Claro, uma importante estrada de ferro do interior de São Paulo, o autor vai pontuando e desdobrando situações e acontecimentos fundamentais para a compreensão mais ampla e conectada da formação da sociedade brasileira, em especial da paulista. Ou seja, a partir de um exemplo em escala micro, pode-se alcançar uma compreensão macro do país – de ontem e de hoje.
Grandi destaca, por exemplo, que a economia sempre representou a finalidade dos acordos estabelecidos, mas os meios, via de regra, são políticos, o que ajuda a explicar “as atrocidades econômicas que enxergamos em momentos variados da nossa trajetória”, conta. O autor ironiza ao dizer que essa prática não ficou relegada a um passado distante. Aspectos como as estratégias, as disputas e os objetivos do transporte ferroviário verificados naquela época continuam, segundo ele, espantosamente atuais.
Grandi, formado em Ciências Sociais e mestre em História Econômica pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara e agora doutorando em História Econômica na Universidade de São Paulo (USP), conversou com o site do SINPRO-SP. Os melhores trechos dessa entrevista você pode acompanhar aqui.