Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo
Finalmente chegou ao Rio de Janeiro, na terça feira 07 de agosto, a exposição "Tropicália - Uma revolução na cultura brasileira (1967-1972)". Sediada no Museu de Arte Moderna da cidade, a mostra já havia passado por Chicago e Nova York, nos Estados Unidos, além de Londres, na Inglaterra, e Berlim, na Alemanha. A exposição comemora os 40 anos do movimento “mais antropofágico da arte brasileira”, nas palavras de Hélio Oiticica. Aliás, é do artista plástico o ambiente – hoje chamado de instalação – conhecido como Tropicália, um dos marcos iniciais do movimento, que foi inaugurado em 07 de agosto de 1967 no mesmo MAM carioca, e que acabou batizando todas as obras que a partir de então passariam a refletir de alguma maneira aquele mesmo espírito libertário. Tratava-se de uma tentativa de pensar e de falar radicalmente sobre as grandes diferenças do Brasil: o extremo arcaísmo de um lado, representado pelas relações políticas, econômicas e sociais, e uma crescente modernização de outro, com o crescimento do mercado editorial e com o avanço do pensamento nas universidades.
Vale lembrar que nas mais diversas áreas e segmentos a década de 1960 foi excepcionalmente rica no que diz respeito à reflexão e ao questionamento sobre o que era o Brasil naquele momento. Para o professor da Faculdade de Filosofia e de Educação Universidade de São Paulo, Celso Favaretto, a arte e a intelectualidade conseguiram captar um momento único e dramático da realidade do país, encontrando ainda espaços e maneiras para dar vazão a esses sentimentos, como nunca mais voltaria a acontecer. E engana-se quem pensa que tropicalistas são apenas as canções de Caetano Veloso e de Gilberto Gil. Esse movimento cultural espalhou-se e criou tentáculos, permeando o cinema, o teatro, as artes plásticas. Trouxe ventos novos e possibilitou a experimentação artística com extrema liberdade. Carlos Basualdo, curador da exposição que abrigou a obra de Oiticica há 40 anos, afirma, em matéria publicada pela Gazeta Mercantil, que "tratava-se de uma concepção radicalmente original da cultura brasileira, e inclusive da própria noção de identidade nacional, que vinha acompanhada de mudanças igualmente significativas na atitude dos artistas, músicos e autores perante a situação social e política imperante no país. Talvez, o movimento mais relevante surgido na América do Sul nas últimas cinco décadas".
Por ser naturalmente libertário, o movimento acabou provocando a ditadura militar que se instalara no país poucos anos antes, em 1964. Por conta da ousadia e da criatividade, Caetano e Gil tiveram de sair do Brasil. Mas o movimento não acabou com a saída deles. Favaretto, também autor de dois livros que tratam do Tropicalismo, conta em entrevista exclusiva ao site do SINPRO-SP como as raízes plantadas em 1967 continuam influenciando a arte do Brasil e modificando conceitos fundamentais em variadas esferas. Para o especialista, “é preciso entender que o Tropicalismo abriu todas as portas para as experimentações artísticas”. Os melhores trechos da conversa você confere aqui.