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Livro reconstitui a história da chacina

Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo

Na memória social coletiva, o massacre de Eldorado dos Carajás, já distante no tempo, talvez apenas remonte a algumas imagens de militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) feridos e contando sobre um conflito com policiais e, com sorte, pode trazer ainda alguma lembrança sobre o julgamento – mais tarde anulado – dos comandantes policiais que participaram do episódio. Fragmentadas e dispersas, as informações sobre a tarde daquele 17 de abril de 1996 não formam a noção de conjunto, não organizam contextos – e por isso acabam sendo esquecidas.

Mas o conflito que se deu numa curva de uma estrada estadual (a PA-150) na região da Serra dos Carajás, no Pará, foi mais, bem mais que um choque entre policiais e membros do MST. Na visão de Eric Nepomuceno, não há a menor dúvida sobre o que houve ali: um massacre. “Não há nenhuma outra palavra para descrever o ocorrido”, reforça. Nepomuceno é jornalista e trabalhou por décadas em diversos órgãos da chamada grande imprensa, mas desde 1986 deixou o jornalismo diário para desfrutar de outras aventuras literárias. Escreveu livros de contos, romances e até roteiros para documentários. Mas talvez sua veia do que hoje se chama de jornalista investigativo – um erro, na visão dele, afinal todo trabalho jornalístico é, ou deveria ser, de investigação – resolveu reaparecer agora.

Foi por causa dessa veia que Eric Nepomuceno leu mais de 20 mil páginas de processos e documentos judiciais, ouviu mais de 30 pessoas e gravou mais de 54 horas de entrevistas e, de posse de todo esse material, escreveu e publicou O Massacre: Eldorado dos Carajás: Uma história de impunidade, lançado recentemente pela editora Planeta.

O livro nem foi idéia dele, veio por sugestão de um grande amigo. Mas logo ao realizar a primeira entrevista sobre o massacre, o escritor entendeu que não havia outra coisa a fazer se não apurar a história e contá-la ao maior número possível de pessoas. Ele admite: o seu livro não traz grandes novidades. O que há de inédito, o que ninguém tinha feito antes, foi contar a história da tragédia inteira. Antes, durante e depois dos assassinatos ocorridos em 17 de abril de 1996.

Aliás, para refrescar as lembranças do leitor, é o próprio Nepomuceno quem conta o que aconteceu em Eldorado dos Carajás: mais de quatro mil trabalhadores sem terra tinham começado uma marcha no início de abril de 1996, partindo de Curionópolis e com intuito de chegar até Belém, capital do Pará. A idéia era pressionar as autoridades do estado para que, por sua vez, pressionassem o governo de Fernando Henrique Cardoso a desapropriar a fazenda Macaxeira. A bem da verdade, eles não imaginavam que iam conseguir chegar até a capital, mas queriam chamar a atenção da sociedade para a questão da reforma agrária.

Com oito ou nove dias de caminhada, os militantes do MST chegaram a Eldorado dos Carajás. Ali, já pressionados para não prosseguir, decidiram formar uma comissão com 80 representantes, para que pudessem negociar com as autoridades. Pediram comida e remédios, suprimentos que não chegaram. Em busca de sobrevivência, saquearam um caminhão. Voltaram a negociar e fecharam a estrada PA-150, por onde marchavam, esperando pelo transporte que os levaria até Marabá – promessa que foi fruto da negociação com o governo. Vem então a ordem do governador Almir Gabriel: a polícia deveria ir até a estrada e fazer o que fosse necessário para desbloquear a passagem. Em outras palavras, os policiais teriam liberdade para tirar a qualquer custo – mesmo que fosse à bala – os sem terra dali. E foi assim que aconteceu. O massacre matou 22 trabalhadores – dezenove na estrada e mais três nos hospitais. E 66 militantes ficaram mutilados.

Leia a entrevista que o jornalista e autor do livro concedeu ao SINPRO-SP.

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