Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo
Foi em agosto de 1945, mais precisamente nos dias 6 e 9 daquele ano, que aviões norte-americanos lançaram bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, respectivamente. O conflito estava praticamente encerrado, a Alemanha havia sido vencida em maio, mas o episódio serviu para acelerar a rendição dos japoneses e também para que os Estados Unidos pudessem dar ao planeta uma demonstração – trágica, selvagem, desnecessária – do poderio militar que haviam alcançado. Foi o episódio final de um dos momentos mais dramáticos e lamentáveis da história recente da humanidade.
Pouco antes, com a ocupação da Alemanha pelas tropas aliadas, a libertação dos campos de concentração confirmara um cenário que até então parecia sobreviver apenas como boato: a existência de uma verdadeira máquina de extermínio em massa, idealizada e colocada em prática pelos nazistas. Especialistas calculam em seis milhões o número de judeus mortos nas câmaras de gás e por conta dos trabalhos forçados e dos maus tratos, marcas definidoras de campos como Auschwitz, Treblinka ou Sobibor. Conhecer esse número é fundamental, mas não suficiente para compreender a complexidade dos horrores da guerra.
“Em geral, quando trabalham com esse tema em sala de aula, os professores param por aí para explicar o que foi o Holocausto. E hoje a gente já sabe que foi muito, mas muito mais que o assassinato brutal de judeus”, ressalta a historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, professora de História do Brasil Contemporâneo da Universidade de São Paulo e coordenadora do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER) da Faculdade de História da USP. “Ainda hoje, muitas gangues neonazistas se formam, atraem adolescentes e jovens, propagam idéias discriminatórias e violentas. E os professores não ligam os acontecimentos do Holocausto a essa violência contemporânea”, completa a especialista, que há mais de trinta anos pesquisa e estuda a questão da intolerância, do anti-semitismo, do nazismo e da imigração judaica para o Brasil.
Com toda essa experiência acumulada em distintas frentes de atuação, Maria Luiza organiza desde 2003 a “Jornada Interdisciplinar para o ensino do Holocausto”, que está alcançando neste ano sua quarta edição, e que é dedicada a professores de escolas públicas e particulares, de todas as disciplinas e níveis. O evento está marcado para o dia 25 de agosto, no anfiteatro Camargo Guarnieri, na Cidade Universitária. São 350 vagas – e os interessados em participar devem se apressar, pois a maior parte delas já foi preenchida. Informações e inscrições pelo telefone: 3082 5844 ou e-mail brasil@bnai-brith.org.br.
Maria Luiza Tucci Carneiro conversou com SINPRO-SP sobre as novidades que a “Jornada” deste ano vai procurar oferecer e destacou a necessidade de ensinar o Holocausto para alunos de todas as idades, buscando reconstruir esse triste episódio com o máximo possível de informações – até para que ele não volte a se repetir e para que se possa combater as sementes de ódio que deixou espalhadas. Os trechos mais significativos da entrevista você pode acompanhar aqui.