Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo

Paulo Bezerra era metalúrgico numa montadora de automóveis no ABC paulista quando, por decisão do Partido Comunista Brasileiro, foi enviado à União Soviética. Era o ano de 1963 e Paulo deveria participar de cursos de formação política em Moscou, naquela época uma exigência bastante comum para os “quadros” (militantes) do Partidão, como era conhecido o PCB. Foi de lá que ele acompanhou o golpe militar de 1964, que derrubou o presidente João Goulart e deu início à ditadura que só se encerraria em 1985.

Apesar do desejo, Paulo viu-se impedido de retornar ao Brasil – comunista que era, correria o risco de ser preso, torturado e até assassinado. Em Moscou, decidiu então começar a estudar a língua russa, e não demorou muito para se interessar pela literatura daquele país. Foram oito anos de estudos e leituras. Muitas leituras. “Também aproveitei esse tempo para conhecer melhor o povo russo, que é muito parecido com a gente. Eles choram muito, riem muito, se emocionam com facilidade. Mas principalmente eles falam muito e pensam muito”. E lêem bastante também? “Ah, também. O russo lê no ônibus, no metrô, nas filas. Lêem muito e desde muito jovens. É uma tradição local”, conta, entusiasmado.

De volta ao Brasil, já em 1972, o metalúrgico decide aprofundar sua formação em línguas e literatura. Estuda primeiro português, na Faculdade de Letras da Universidade de São Paulo. Depois, conclui mestrado, doutorado e livre-docência, sempre na mesma instituição e na área de literatura russa. Atualmente, é professor de Teoria Literária na USP e um dos mais respeitados tradutores de obras russas do Brasil. Em conversa exclusiva com o site do SINPRO-SP, o especialista apresenta as razões da grandiosidade da literatura russa, fala sobre as dificuldades de aproximação com esse mundo aparentemente tão diferente e complexo e revela o universo que se abre quando essas primeiras barreiras são superadas. Paulo ainda oferece algumas dicas para entender os clássicos russos e organiza até uma sugestão de roteiro de leitura para as obras. Os melhores trechos você acompanha aqui.