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O governo precisa fazer opções

Por Francisco Bicudo

É verdade que o governo mal começou, e avaliações e julgamentos podem ser precipitados – da posse até aqui, passaram-se apenas quatro meses. É verdade que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu de presente uma bomba-relógio difícil de ser desarmada – uma herança de oito anos de neoliberalismo à moda FHC/Malan. É verdade também que parlamentares do Partido dos Trabalhadores aproveitaram os holofotes e microfones para alguns minutos de fama. E parece ser ainda verdade incontestável, conforme mostram todas as pesquisas de opinião, que a sociedade manifesta com Lula uma paciência e apoio talvez jamais vistos na história do Brasil.

Mas, apesar de tudo isso, é fato também que, nos bastidores e de maneira ainda velada, quase como burburinho ou sussurro, já se nota um incômodo e certo mal-estar com o andar da carruagem. É uma agonia que não se consegue explicar, um espanto ou estranheza, perplexidade ou surpresa; são rostos atônitos, talvez sem entender muito bem porque o que se dizia antes agora parece não valer mais. Pois esse sentimento até então difuso ganhou caras e significados mais nítidos e definidos com a entrevista da economista Maria da Conceição Tavares à Folha de S. Paulo. Publicada em 21 de abril, ela acende o sinal amarelo, canaliza críticas e demandas que estavam dispersas – e representa um grito de alerta. Mais do que um indício, é a constatação da indignação e do inconformismo que começam, ainda que lentamente, a inundar alguns setores da sociedade.

Duras críticas
Sem papas na língua ou censuras, como de costume, Conceição criticou duramente o documento “Política Econômica e Reformas Estruturais”, elaborado pelo Ministério da Fazenda e divulgado em 10 de abril. Além de associar os problemas da economia à ausência do ajuste fiscal, quando o PT historicamente defendera que o vilão sempre fôra o déficit externo, o documento apresenta a tese da focalização das políticas sociais – compensações apenas para os mais pobres –, deixando de lado a idéia da universalização de direitos. “É um espanto que esse grupo de garotos espertos (NR- referindo-se a assessores da área econômica) faça com dinheiro público e do Banco Mundial uma nova Agenda que proponha para o Brasil – o único país que tem políticas universais em saúde, no ensino público básico e no INSS, três redes universais que ninguém nunca conseguiu desmontar – a focalização dos programas sociais”, afirmou a economista à Folha.

Nos dias seguintes à publicação da entrevista, acirrou-se o debate entre “focalizadores” x “universalistas”. O senador Aloísio Mercadante, líder do governo no Senado e uma das estrelas do PT, defendeu publicamente a intervenção no câmbio – que, segundo o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, “deve flutuar livremente”. A esquerda do PT aproveitou o clima para promover nova investida contra as reformas previdenciária e tributária, ameaçando inclusive entrar na Justiça contra a propaganda veiculada pelo governo. Durante o bate-boca público, falou-se em racha e expulsões. No dia seguinte à entrega das propostas de reforma ao Congresso Nacional, o jornalista Clóvis Rossi escreveu na Folha: “O seu (do presidente Lula) discurso é rigorosamente o discurso do governo anterior e o discurso tradicional da direita brasileira. Nada contra ser de direita (ou de esquerda, ou de centro, tem gosto para tudo). Mas só queria lembrar, presidente, que os de esquerda, como Babá, a senadora Heloísa Helena, lhe ofereceram o ombro amigo nas horas amargas. Já a direita, só lhe aplaude porque o senhor se revela submisso e rendido às idéias e projetos dela”. Na mesma edição do jornal (dia 1º de maio), o empresário Antoninho Marmo Trevisan, amigo e eleitor do presidente Lula e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, chama a atenção para o risco de o governo se transformar em um governo da moeda, e não do social.

Para Plínio de Arruda Sampaio Jr, professor do Instituto de Economia (IE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a entrevista da professora Conceição evidencia que não são apenas os radicais da esquerda do PT que estão preocupados com os rumos do governo. “Qualquer um que deseja as mudanças está preocupado”, garante. Em entrevista exclusiva ao site do Sindicato dos Professores de São Paulo, ele faz uma detalhada análise da atual conjuntura, afirma que a política econômica continua a seguir os ditames do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial – “as reformas pretendem apenas agradar aos mercados especulativos e aos agentes internacionais” –, e aponta as alianças políticas feitas pelo PT como a chave-mestra para compreensão da atual guinada à direita feita pelo partido. “Não é possível acomodar forças políticas, projetos e interesses tão distintos e opostos. O governo precisa fazer opções”, sentencia.

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