"Nossa intenção foi mesmo oferecer uma visão histórica ao leitor, começando com a formação do Estado brasileiro, até chegar ao momento atual, onde o papel que esse Estado cumpre é questionado com muita ênfase. Esse percurso nos permite ter uma idéia mais clara dos conflitos e contradições que enfrentamos, no processo de formação da identidade e da cultura brasileira", afirma o professor Benjamin, que, como já se viu, é um dos organizadores da coletânea.
Um breve olhar sobre a escolha dos biografados confirma a tentativa de registrar essa diversidade. Além da preocupação em mapear os diversos períodos históricos, foram escolhidos personagens que pudessem representar as diferentes regiões do Brasil. Buscou-se ainda o equilíbrio entre os gêneros masculino e feminino. Foi essa mistura caleidoscópica quem permitiu que a cultura brasileira, híbrida e plural, explodisse com toda a intensidade nas páginas de “Personae”. A personalidade complexa e multifacetada é a marca de todos os personagens que aparecem no livro. Eles não são nem apenas “bons” nem “maus” o tempo inteiro, mas contraditórios e cheios de idas e vindas.
“Pegue o exemplo do Paulo Honório. De um lado, ele é o fazendeiro explorador, típico de um modelo de capitalismo que existe no Brasil. Na outra ponta, temos o Paulo Honório escritor, que busca, através de suas cartas, resgatar a humanidade perdida. É um sujeito dividido, problemático, em constante conflito”, destaca o professor.
Um outro exemplo citado por ele é Capitu, que, no Rio de Janeiro do final do século XIX, é obrigada a desenvolver ritos para conseguir sobreviver, já que tem sua origem nas classes menos favorecidas da sociedade. “Mas ela é sempre vista por olhares preconceituosos. É a mesma visão que o Norte tem do Brasil – estão sempre achando que seremos eternos subalternos”, compara.