Elisa Marconi e Francisco Bicudo
A cultura ocidental contemporânea construiu essa imagem, e as sociedades que carregam essa bagagem procuram – diariamente – reproduzir a idéia: a infância deve ser um tempo feliz e resguardado das pequenas e grandes tragédias da vida cotidiana. Por isso, na infância não haveria lugar para o relato de crimes, de ações de violência e, principalmente, espaço para a morte.
Acontece que nem sempre esse tipo de ideário consegue vencer as adversidades que eventualmente a vida real impõe. E é justamente por isso que crianças das mais variadas idades podem passar por situações bem tristes, ou bem delicadas, como a perda de um parente, de um de seus pais ou mesmo de um amigo querido. Quando isso se dá como os adultos devem lidar com essas questões? Devemos contar que alguém morreu? Se sim, como contar e quanto falar disso para os pequenos? Por se tratar de um assunto difícil até para adultos, os pais, a famílias e os educadores por vezes se perdem na tentativa de explicar a morte de alguém para o universo infantil. Com medo de errar, desviam do tema, inventam versões fantasiosas, ou aproveitam para doutrinar a criança a partir de determinada proposta religiosa. Outros, também na tentativa de acertar, acabam falando demais, explicando detalhes além do necessário para um menino ou uma menina que já estão – por força da situação – mais que confusos.
Olhando para tudo isso e percebendo quanto os livros infantis vinham ajudando crianças internadas no Hospital das Clínicas de São Paulo a lidar melhor com suas doenças, seus acidentes e suas dores é que a psicóloga Lucélia Paiva decidiu desenvolver uma tese de doutorado pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. O estudo mostra como e quanto a literatura infantil pode ser um suporte valioso para tratar da morte com crianças. Ela é mestre em Ciências pelo Hospital A. C. Camargo e trabalhou no HC por mais de 15 anos. O SINPRO-SP conversou com Lucélia – e os melhores trechos da conversa você acompanha aqui.