Elisa Marconi e Francisco Bicudo
O Boletim Epidemiológico, documento anual produzido pelo Ministério da Saúde e que revela a situação das doenças infecto-contagiosas no Brasil, trouxe em 2007 novidades significativas. É verdade que algumas tendências continuam muito semelhantes às apontadas em anos anteriores, mas outras indicam alterações que, embora pontuais, começam a mostrar para aonde pode estar seguindo a epidemia de AIDS no país.
O relatório começa relembrando que de 1980 a junho de 2007 foram oficialmente notificados 474.273 casos de AIDS no País. A maioria absoluta, quase 290 mil, está concentrada no Sudeste. E a região com menos registros é a Norte. De acordo com o documento, embora o número seja bem alto, quase 500 mil infectados, a incidência de AIDS por aqui tende a se estabilizar, ou seja, a média de novos registros de soropositivos deverá se manter constante, girando em torno de 30 a 35 mil novos casos por ano. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil tem o que se chama de epidemia concentrada, com taxa de prevalência (total de casos) da infecção pelo HIV de 0,6%, na população de 15 a 49 anos.
Embora a maioria dos contaminados historicamente sejam homens, os últimos relatórios já mostravam que a diferença entre os sexos vinha caindo de maneira bastante contundente. Em 1985, por exemplo, havia 15 homens soropositivos para cada mulher soropositiva. Hoje, a relação é de 1,5 para 1. Na faixa etária de 13 a 19 anos, o quadro se inverteu. Desde 1998, há mais garotas soropositivas que garotos. E, em ambos os sexos, a maior parte dos casos de AIDS se concentra na faixa etária de 25 a 49 anos.
As novidades do Boletim Epidemiológico 2007 continuam com a confirmação de que, mesmo cinco anos depois de diagnosticados, 90% dos soropositivos do Sudeste estavam vivos. No Norte, o percentual foi de 78%; no Centro Oeste foi de 80%; no Nordeste, 81%; e no Sul, 82%.
Outro dado novo é que nos últimos anos o número de casos na população acima de 50 anos, em ambos os sexos, tem crescido. E entre os menores de cinco anos, a contaminação vem caindo vertiginosamente. A última mudança de rumos na epidemia também já havia sido inicialmente detectada pelo Ministério da Saúde e ganhou comprovação com a divulgação de um levantamento feito pela Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo. O estudo aponta que, em 1997, 12% das mulheres que contraíram AIDS no estado de São Paulo tinham entre 8 e 11 anos de estudo. Em 2007, o índice chegou a 25,4%. Já os homens que estudaram de 8 a 11 anos representaram 26,8% do total de casos no ano passado, contra 15,3% em 1997. Ou seja, a epidemia avança entre as pessoas mais escolarizadas, enquanto cai no segmento dos menos instruídos.
Para ajudar a entender melhor os dados levantados pelo Boletim Epidemiológico de 2007 e pela Secretaria de Saúde de São Paulo, o SINPRO-SP conversou com o infectologista do Hospital Emílio Ribas, Caio Rosenthal, um dos mais respeitados especialistas em HIV/AIDS do Brasil. Os melhores trechos da entrevista você pode acompanhar a seguir.