Elisa Marconi e Francisco Bicudo
Em dezembro do ano passado, os historiadores Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota lançaram “História do Brasil – uma interpretação” (Editora Senac). Poderia ser considerada mais uma das tantas obras que se dedicam a resgatar e a contar a trajetória do país – não fossem alguns detalhes. O livro tem mais de mil páginas – o que pode assustar os menos empolgados. Dá conta do período do pré-descobrimento aos últimos meses de 2008 – o que, convenhamos, não é nada comum. E, principalmente, retoma duas posturas pouco habituais: revisita grandes pensadores nacionais, como Caio Prado Jr, Celso Furtado, Gilberto Freyre e outros, além de sugerir uma narrativa da história baseada na noção de processo, de continuidade, de ligação entre os tempos, refutando a ideia de ciclos estanques, ainda tão comum em boa parte de nossas salas de aula.
Mota admite que a proposta era mesmo contar a mesma história de um jeito diferente. “A história que os alunos aprendem na escola é fragmentada e eles não conseguem entender que um fato só aconteceu porque outros vieram antes. Nossa intenção foi alinhavar as fases todas e, principalmente, construir o sentido de cada tempo”. O pesquisador, que fez graduação, mestrado e doutorado em História na Universidade de São Paulo (USP) e atualmente é professor da USP, da Universidade Mackenzie e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), reconhece que se trata mesmo de uma interpretação, como destaca o subtítulo da obra, e diz que “não é um livro voltado apenas para o mundo acadêmico, é para o leitor em geral, preocupado com os rumos e ambiguidades da História de nosso país. A gente ficou em cima de algumas heranças malditas, digamos assim”, reforça, referindo-se a temas como o coronelismo, a confusão entre as esferas pública e privada, a corrupção e a impunidade que sempre marcaram nossa trajetória.
Na apresentação da obra, o historiador Alberto da Costa e Silva afirma que se trata de um convite à polêmica. E Mota, durante a entrevista para o SINPRO-SP, não nega essa perspectiva. “É um livro para o atual momento da democracia, para entender o hoje e o ontem com os olhos do presente”. E, segundo o autor, é também um pedido nada polido por uma educação de melhor qualidade, por uma formação de alunos e professores que dê conta das características do país e valorize o entendimento geral de que sem “educação sólida não se constroi uma Nação de verdade”. Você acompanha aqui os melhores momentos dessa conversa