Elisa Marconi e Francisco Bicudo
Quando se fala em campos de concentração, nossa memória nos remete de forma imediata ao extermínio de judeus patrocinado pela Alemanha nazista de Adolf Hitler durante a II Guerra Mundial e a nomes como Auschwitz e Treblinka, dois dos campos construídos pela máquina de guerra alemã na Polônia, e onde foram assassinadas mais de dois milhões de pessoas. A associação faz sentido e se justifica – trata-se, afinal, de um dos episódios mais dramáticos e bárbaros da história recente da humanidade, quando os campos foram utilizados como centros de extermínio em massa. Mas, embora o regime nazista tenha sido responsável por levar a idéia às últimas consequências, a prática de confinar prisioneiros, civis ou militares, obrigando-os a viver em espaços cercados e constantemente vigiados, em geral em época de guerras, e onde são comuns os maus-tratos “não foi uma criação de Hitler, é algo recorrente durante todo o século XX e mais antigo do que se possa imaginar”, destaca a historiadora Priscila Perazzo, que nos últimos anos se dedicou a estudar o assunto.
As pesquisas desenvolvidas por ela trazem à tona uma faceta da história do Brasil ainda pouco conhecida do público leigo, indicando que campos de concentração, embora tivessem finalidade diferente dos idealizados pelos nazistas, existiram também em nosso território, durante a II Guerra.
“Aqui, em vez de aprisionar e de exterminar judeus, os campos confinavam os súditos do Eixo, os alemães, japoneses e italianos que comprovadamente tivessem ligações com o nazismo ou com espionagem”, explica Priscila, também professora da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). “O que eu preciso deixar bem claro aqui é que quando a gente conta que as práticas eram diferentes, não estamos fazendo julgamentos de valores, como se prender um fosse menos grave que prender 100 pessoas. Ou como se só torturar fosse menos grave que exterminar. Não dá para medir assim, desrespeito à vida humana não dá para quantificar. O que a gente pode fazer é contextualizar, entender, contar o que aconteceu e apontar semelhanças e diferenças”, completa a especialista, que lançao livro Prisioneiros da guerra: os “súditos do Eixo” nos campos de concentração brasileiros (1942-1945), justamente o resultado dos trabalhos que desenvolveu sobre o tema durante o mestrado e o doutorado, realizados na Universidade de São Paulo (USP).
Na entrevista que concedeu ao site do Sindicato dos Professores, a autora revelou detalhes da implantação desses campos no Brasil, analisou a política de perseguição estabelecida pelo governo brasileiro em relação aos seguidores do Eixo e contou um pouco de como era a vida desses estrangeiros no confinamento. Os melhores trechos dessa conversa, você acompanha aqui