Francisco Bicudo
O historiador Boris Fausto, no livro História do Brasil (Edusp), conta que “o Brasil foi um dos países receptores dos milhões de europeus e asiáticos que vieram para as Américas em busca de trabalho e ascensão social. Cerca de 3,8 milhões de estrangeiros entraram no Brasil entre 1887 e 1930”. Naquele período, dois fatores principais impulsionaram essa movimentação e atuaram como elementos de atração: a lavoura cafeeira e, um pouco mais tarde, o processo de industrialização. Nos dois casos, destaca-se o estado de São Paulo, que recebeu pouco mais da metade dos imigrantes que para cá vieram. Os principais grupos que chegaram ao Brasil foram os italianos, portugueses, espanhóis e japoneses. Ainda segundo Fausto, “os imigrantes mudaram a paisagem social do Centro-Sul do país, com sua presença nas atividades econômicas, seus costumes, seus hábitos alimentares, contribuindo também para valorizar uma ética do trabalho”. A partir de 1930 – para o historiador, por conta “da crise mundial de 1929 e das mudanças políticas vividas pelo Brasil e pela Europa” –, o fluxo migratório reduziu-se significativamente.
E foi novamente em um momento de virada de século – desta feita do XX para o XXI – que o Brasil voltou a ser ator importante e de peso no mapa das movimentações populacionais internacionais. Não demorou muito para que os novos fluxos migratórios chamassem a atenção dos pesquisadores. “Estão agora diretamente associados à globalização e à reestruturação produtiva”, explica Rosana Baeninger, professora do Departamento de Demografia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/Unicamp). O cenário atual traz novidades interessantes: a partir da década de 1980, foram os brasileiros, movidos pelo desejo de vida melhor, que começaram a buscar abrigo em outros países. De acordo com dados do Ministério das Relações Exteriores, em 2009, havia pouco mais de três milhões de brasileiros vivendo no exterior, concentrados principalmente nos Estados Unidos, em nações da Europa e no Japão.
Presença de latino-americanos e asiáticos
Simultaneamente, os europeus, corrente imigratória majoritária no Brasil do início do século XX, são substituídos pelos latino-americanos e pelos asiáticos. No primeiro grupo, vale destacar a forte presença dos bolivianos. Segundo artigo escrito pela cientista social Iara Rolnik Xavier e pelo arquiteto e urbanista Renato Cymbalista, disponibilizado pelo site do Instituto Polis, há cerca de 100 mil bolivianos vivendo atualmente na cidade de São Paulo. “Têm, em geral, um perfil jovem, de baixa qualificação profissional, escolaridade média e variação de gênero equilibrada entre homens e mulheres. É uma imigração voltada para um ramo bastante específico, o da costura, no universo da indústria do vestuário. A grande maioria já vem da Bolívia contratada para atuar em oficinas de costura”, escrevem os autores. Ainda nesse grupo, é preciso citar os peruanos e os paraguaios. Já no segundo segmento, a contribuição mais significativa vem dos coreanos. Reportagem publicada pela Revista da Folha em fevereiro de 2005 citava dados do Consulado da Coreia que indicavam que havia naquele momento 40 mil coreanos em São Paulo. “Hoje, dois terços do comércio e da indústria de roupas do Bom Retiro estão em mãos coreanas. É lá que se concentra o ganha-pão dessa comunidade”, completa a reportagem.
“São Paulo, por ter e manifestar essa mentalidade e vocação de metrópole, sempre vai representar esse papel de eldorado. A cidade sempre teve essa referência de oportunidades, de sonhos, por oferecer justamente os encantos e atrativos de uma metrópole global”, avalia Rosana Baeninger, que é também pesquisadora do Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Unicamp. E foi com ela que o SINPRO-SP conversou, justamente para compreender com mais detalhes esse cenário e oferecer ao professor subsídios para alimentar esse debate em sala de aula. Leia aqui a entrevista