Embora admita que a palavra-chave de toda a discussão seja mesmo qualidade, Machado pede que se tenha cuidado ao usar o adjetivo, já que há uma infinidade de conceitos e referências que podem ser tomados como bússolas do debate. O padrão Globo de qualidade, lembra, preocupa-se com a imagem perfeita, o enquadramento, a iluminação, o bom argumento e os atores profissionais. O uso do termo pode levar também a concepções elitistas e conservadoras, que tomam a qualidade como algo ligado à purificação. Embora não seja explícito, o professor deixa escapar, nas entrelinhas, que prefere associar o adjetivo a programações televisivas educativas, ousadas, criativas, que questionam os modelos estabelecidos. “Dizer o que não tem qualidade é fácil, salta aos olhos. O difícil é fazer o caminho inverso”, diz.

A postura mais indicada para alcançar esse fim seria descartar imediatamente os maus programas; para tanto, e simultaneamente, ele insiste e reforça, haveria a necessidade de se criar critérios e referências para conseguir identificar os programas de qualidade, partindo do princípio de que a televisão é um dos fenômenos culturais mais importantes de nosso tempo. Ao invés da recusa gratuita e despropositada, que faz da TV um demônio a ser exorcisado, teria lugar a postura crítica e atenta, mas ciente de que é possível produzir e acompanhar programas capazes de contribuir com a formação dos diversos segmentos da sociedade. Sozinha, diz Machado, a TV não é nada. “Nós, escritores, jornalistas, educadores e público, é que fazemos a TV e damos a ela cara e vida”, finaliza.

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