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Confinados, mas sob as câmaras

Elisa Marconi e Francisco Bicudo

No início de agosto, foi ao ar – para o mundo todo – o primeiro capítulo de uma série que está longe de acabar. Noticiado em jornais, revistas, emissoras de rádio e amplamente repercutido pelas TVs, o acidente que prendeu 33 mineiros chilenos na Mina San José, em Copiapó, 800 quilômetros ao norte de Santiago, a capital chilena, vem sendo acompanhado passo a passo, episódio a episódio, quase que minuto a minuto. Do que eles têm para comer ao funcionamento da perfuratriz; da previsão dos proprietários da mina à ajuda da Nasa (a agência espacial norte-americana) para simular dia e noite; dos contatos em tempo real com as famílias aos quilos que os mineiros já perderam. Ficamos sabendo de tudo.

Certamente não é o primeiro caso de cobertura intensiva e espetacularizada de um acontecimento real, porém dramático, com personagens reais. Mas essa retenção dos chilenos há mais de um mês é propícia para trazer à tona uma reflexão a respeito do papel da mídia, da narrativa dos fatos e do que é oferecido aos leitores, ouvintes e espectadores.

No último dia 4 de setembro, por exemplo, o filósofo alemão Christoph Türcke, da Universidade de Leipzig, falou à Folha de S. Paulo que as pessoas hoje vivem na chamada “sociedade da sensação”. Nesse novo mundo, a exposição a choques imagéticos excita continuamente os espectadores, causando um efeito parecido com o das drogas como cocaína e heroína. A cobertura do drama dos mineiros chilenos atenderia diretamente a essa necessidade de experimentar sensações. No dia seguinte, o mesmo jornal convidou o jornalista e ex-Big Brother Jean Wyllys para que – à luz de seu confinamento na casa do reality show da TV Globo – analisasse a situação dos mineiros presos na San Jose.

Em 30 de agosto, poucas semanas após a notícia do confinamento, o jornalista Alberto Dines escreveu no Observatório da Imprensa: “O fim de semana foi marcado em todo o mundo por um espetáculo sem precedentes, autêntico reality show, dramático, emocionante, angustiante, literalmente sufocante. Jornais, revistas e televisão mostraram um vídeo gravado nas profundezas do inferno a 700 metros abaixo do solo pelos mineiros chilenos soterrados há 25 dias na mina de cobre de San José, norte do Chile.” E finaliza dizendo que “o jornalismo sem jornalistas está na moda: é espetacular, incessante e, sobretudo, barato”.

As narrativas midiáticas do caso dos mineiros chilenos presos na Mina San José trouxeram à tona novamente, e com muita intensidade, o debate sobre a sociedade do espetáculo e as proximidades indesejadas entre jornalismo e entretenimento. O SINPRO-SP aproveita para contribuir com a discussão e as reflexões críticas e abre espaço para o depoimento de uma especialista e pesquisadora do assunto – a professora do programa de Pós Graduação em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Leda Tenório Motta. Leia aqui

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