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Análise de Luis Mauro Sá Martino, jornalista, professor e escritor

“Numa primeira olhada, o que chama a atenção no caso dos mineiros chilenos presos não é nem o tipo da cobertura da mídia, mas o uso das tecnologias da informação para que a gente tenha acesso ao que acontece lá. São microcâmeras, celulares, conversas por videoconferência ao vivo e gravadas, enfim, que nos dão a dimensão do que se passa lá dentro mesmo, como – salvo algum esquecimento – nunca observamos antes. Isso me lembra “A montanha dos sete abutres” [direção: Billy Wilder, 1951], filme clássico para estudar a ética jornalística. Nele, um jornalista encontra um grupo de mineiros presos numa mina no interior do Novo México, nos Estados Unidos, e em vez de ajudar no resgate dos homens, ele mantém a situação para garantir a cobertura exclusiva, transforma a situação num show.

Agora, arrisco dizer que essa espetacularização – a expressão às vezes parece um pouco gasta – acontece desde que o jornalismo é jornalismo. Acontece que a informação e o entretenimento têm um ponto de contato, a novidade. O novo, o curioso e até aquilo que não é factual, no sentido jornalístico, pode ser um ponto de encontro e convergência entre a informação e o entretenimento. Por isso acho que a sensação de que a mídia está cobrindo o confinamento dos mineiros como um reality show é bem plausível. Tem uma cobertura intensa, torcidas vibrando, esperando o que vai acontecer depois, como se fossem lances dramáticos. Mas vamos lembrar que os mineiros têm assistência, estão bem e certamente não vão morrer lá na mina. Se a gente lembrar do caso do submarino russo Kursk [que ficou preso no fundo do Mar de Barents, em 2000, e levou à morte os 118 marinheiros que estavam a bordo], a mídia foi mais respeitável. A suspeita de que os russos não seriam resgatados a tempo, antes que o oxigênio acabasse e que fossem congelados, levou os jornalistas a lidar com mais parcimônia, numa atitude fora de padrão. No caso da Mina San Jose, no Chile, o público quer saber o que vai acontecer lá, mas sabendo que os mineiros vão sair. Vivos.

Uma certa superficialidade – que falei antes – não é em si uma opção boa, apesar do hábito e do costume. Olhar as coisas rapidamente nos faz deixar de lado dimensões importantes da História. Mas também me pergunto quando as coisas foram diferentes. Quando as pessoas não foram superficiais? Quando as notícias tiveram mais critério e melhor qualidade? Então, o que chama a atenção nos tempos que vivemos não é a diferença de qualidade em relação a um estado anterior. É a quantidade. Que pode, aí sim, resultar numa superficialidade.

Se isso tudo acontecesse há uns cinco anos, talvez fosse mais radical nas reflexões. Mas hoje acho que não dá mais para brigar contra essa tendência de a informação se tornar bombástica, atrair dessa maneira o leitor, o espectador. Mas não gosto muito dessa situação, isto é um diagnóstico. Se todos têm informação, como os produtores das informações vão se diferenciar, vão agregar valor? A capa das revistas semanais permite uma boa visão disso. Os rostos dos mineiros, no escuro e com a barba por fazer – e aqui um especialista em semiótica poderia ajudar mais – tocam o leitor, chamam a atenção. E faço aqui uma ressalva importante, chamam a atenção por critérios clássicos do jornalismo: o inédito, a novidade. Por isso acredito que cada vez menos temos uma dicotomia entre informação e entretenimento e cada vez mais algo como uma convergência.

E brigar com a tecnologia não adianta. A História vem mostrando que quem se posicionou contra a tecnologia perdeu. Perdeu porque a Tecnologia abre um mundo bacana, cheio de possibilidades. Diante disso tudo, o papel do professor é, encarando que a tecnologia existe, pensá-la com o aluno, refletindo criticamente sobre ela. É um pouco parecido com o que aconteceu há alguns anos, quando precisamos parar para pensar a televisão. E mesmo tendo refletido bastante, com críticas e ponderações, não paramos de assistir televisão. Esse é um desafio para o professor.”
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