E as estatísticas mostram que o uso de drogas entre estudantes é mesmo uma triste realidade. Um estudo do Centro Brasileiro de Informações de Drogas (CEBRID), da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), realizado em 1997, mostra que 12,4% das crianças entre 10 e 12 anos das escolas estaduais de dez capitais brasileiras já tinham tido algum contato com droga. E esses dados excluem álcool e cigarro. Quando incluímos as duas últimas variações – as mais consumidas pelos alunos – vemos que 9,1% dos entrevistados já tiveram contato com tabaco, e 53,2%, com bebidas. O dado se repete em pesquisa de 1993 também do CEBRID/Unifesp, dessa vez com estudantes de 1o e 2o graus de dez capitais do país. Nela, 80,5% dos pesquisados afirmam que tiveram, pelo menos uma vez na vida, contato com álcool, seguido de 28% com contato com cigarro e 15% com solventes e inalantes.
A Unesco realizou em 2001 uma pesquisa com 16.619 jovens de 11 a 24 anos, em 24 capitais brasileiras. Os resultados corroboram o que foi levantado pelo CEBRID e tornam o quadro mais alarmante: os adolescentes experimentam drogas cada vez mais cedo. Em sua maioria, bebidas alcoólicas e tabaco. E entre 3 e 15% (de acordo com a cidade) revelaram ter provado drogas ilícitas. Ainda segundo esse estudo, que também entrevistou pais e professores, a escola é o lugar que mais os jovens associam ao consumo de tóxicos. Dos entrevistados, 40% dos estudantes viu uso de drogas nas proximidades da escola, 30% presenciaram colegas fazendo uso nas dependências da escola e 30% dos pais viram usuários ou traficantes ao redor da escola.
Os números revelam duas tendências: a primeira é que a escola está, de alguma maneira, ligada ao uso de drogas, e a segunda é que não podemos esquecer as drogas lícitas. “Os estudos científicos em que nos baseamos provam que as lícitas são a porta de entrada para as demais”, explica Beatriz. Sóbrio, o aluno possivelmente diria não a uma droga qualquer; mas, sob efeito do álcool, por exemplo, torna-se mais propenso a aceitar fumar cigarro, maconha, ou até mesmo experimentar drogas mais pesadas.
E é justamente nesse ponto que entra a prevenção. Um trabalho bem feito de conscientização sobre os malefícios das drogas pode ser fundamental no momento crítico que é o da escolha do estudante de aceitar ou não aceitar consumir qualquer droga. E é também aí que o “Prevenindo Drogas na Escola” se faz tão importante. O curso não se resume a simples palestras onde são ensinados conceitos gerais sobre as drogas, de maneira fria e objetiva. “Prevenindo” é constituído por uma série de atividades, dinâmicas, discussões e encontros que sensibilizam e ensinam a sensibilizar para o não uso. Nanci e Beatriz discutem as características de cada substância, falam sobre o prazer fugaz que o consumo das drogas traz e sobre a destruição que a dependência significa, tanto para o usuário quanto para sua família. Nesse ponto, destaca-se o depoimento de dependentes que conseguiram parar de consumir tóxicos e de grupos de pais de dependentes, como o Amor Exigente, que se uniram para se ajudar e conseguir manter as famílias estruturadas.
Para o adolescente, pobre ou rico, o grupo de auxílio tem um peso enorme, já que ele tem problemas de auto-estima, está passando por uma série de dificuldades. Seus pais depositam uma enorme expectativa nesses pós-meninos, ou não depositam referência alguma. Como fazer para que tudo isso não leve ao consumo e à dependência? “Estimulando a conversa sincera entre pais e filhos, o que ajuda a formar um adolescente mais tranqüilo e seguro”, sugere a educadora e psicóloga Nanci. “Ajudando os professores a tratar do assunto com seus alunos, porque conversar não estimula o uso, pelo contrário, até diminui a curiosidade”, completa a pedagoga Beatriz, explicitando um dos alicerces do curso, que é a quebra do tabu de se falar sobre drogas em casa e na escola.
Mas será que os estudantes querem falar? E pais e professores querem ouvir? “Muito. É preciso até organizar um pouco”, responde Beatriz. Jovens têm muitas dúvidas e muita vergonha de não saber as respostas certas; professores têm um olhar objetivo sobre seus alunos, às vezes percebem algo anormal, querem ajudar, mas não sabem como; e os pais só querem uma oportunidade para descobrir que suas aflições são normais e iguais às dos outros pais. Quando tudo isso acontece, todos estão motivados, numa reunião gostosa, cheia de brincadeiras e dinâmicas. Pais e filhos num curso, professores em outro – fica até difícil controlar a alegria da conscientização que surge a partir daí. Sem ela, não há solução. Nanci e Beatriz acreditam que a saída é a educação “vista como um processo global, estimulando o corpo, a emoção e a razão de pais, alunos e professores”. Para elas, esse é o único caminho possível para que o jovem pergunte se vale a pena correr o risco –e decida, simplesmente, dizer não.
Serviço:
Curso “Prevenindo o uso de drogas nas escolas”
04 e 11 de maio de 2004