Isso significa que conceitos clássicos e fundadores da nossa sociedade capitalista, ocidental e cristã, como o Estado soberano, por exemplo, estão sendo revistos, e novas estruturas vão sendo criadas e ocupando espaços importantes. “Estamos passando por um deslocamento no eixo que costumamos chamar de Estado”, sugere Rezende. A profa. Maristela aprofunda: “Saímos do padrão Estado-Nação para iniciar o padrão Estado-Região”. Ou seja, há algo de novo no que diz respeito à organização e posição dos países e povos no mundo. Uma integração sem precedentes, que procura manter as identidades nacionais, mas traz novos ventos à organização do mundo.
Entre outras razões, porque “sepulta de vez a Guerra Fria”, como coloca Maristela Basso, fazendo referência à associação entre países tradicionalmente capitalistas – Alemanha, França e Itália –, com outros recém saídos do socialismo, como Polônia, Hungria, República Tcheca, Eslováquia e Eslovênia (que integrava a Iugoslávia).
Os números da nova UE são respeitáveis: Produto Interno Bruto (PIB) previsto de US$ 12,5 trilhões, quando o americano é de cerca de US$ 11,5 trilhões, e uma população de 455 milhões de pessoas, que perde apenas para a China e a Índia. O bloco se destaca também pelo papel que passa a cumprir no espaço internacional. “É, sem dúvida, uma refundação do protagonismo Europeu”, propõe Rezende. “E isso se manifesta em um momento de polarização com a América”, acrescenta a professora de direito internacional. Embora, durante a Guerra do Iraque, o bloco europeu não tenha se posicionado de forma una – países contra e a favor –, ficou muito claro a quem pertencia o conflito. De uma certa forma, a mensagem que pode se propagar pelo mundo é que os EUA são pela fragmentação do planeta, enquanto a Europa é pela sua união.
A leve superioridade da União Européia em relação aos Estados Unidos não se restringe ao PIB, ou à população – e conseqüentemente, ao mercado. O bloco também está exportando para o mundo um modelo de integração, que procura dar conta, mesmo que de maneira conflituosa, do respeito às diferenças e investimento em melhoria de vida para os países mais pobres. Um fortalecimento em rede que, novamente, enfraquece o poderio americano. Os países pobres da União, ao se aproximarem de seus companheiros mais ricos, também se afastam da esfera de influência norte-americana. A cartilha já ecoa em outros continentes, e pode-se dizer que o Mercosul, por exemplo, é mais influenciado pela UE do que pelo Nafta (tratado aduaneiro e comercial entre Canadá, México e EUA, encabeçado por esse último). Aliás, alguns acordos de importação e exportação que vêm sendo implementados entre América Latina e União Européia, com previsão para terminarem em outubro deste ano, confirmam esse alinhamento com o velho continente.