Crescimento desenfreado do ensino superior privado no país dá sinais de esgotamento, com o registro das primeiras falências e fusões
Por Francisco Bicudo e Elisa Marconi
O ensino superior privado no Brasil registrou, nos últimos anos, um crescimento de proporções talvez jamais vistas. Segundo o Ministério da Educação (MEC), somente de 31 outubro de 2001 até 30 de julho de 2003, o número de instituições particulares aumentou 45%. Mais de 500 estabelecimentos receberam autorização para funcionamento, ou seja, em média, um a cada 1,2 dia. As razões para esse fenômeno são várias. O ex-ministro da Educação, Paulo Renato de Souza, foi um dos grandes incentivadores do crescimento do segmento, autorizando a abertura de muitos cursos e faculdades. A melhor compreensão do fenômeno passa ainda pela questão da educação continuada e da exigência de formação qualificada e chega até o mercado atrativo e lucrativo em que se transformou o segmento. As mensalidades cobradas são, em geral, bastante elevadas e, por conta da autonomia garantida pela Constituição, as universidades têm total liberdade para criar e fechar cursos, aumentar e diminuir vagas, contratar e demitir professores, definir custos e investimentos. Tudo, claro, sempre regido pela lógica do lucro.
Esse mesmo mercado, no entanto, já apresenta os sinais iniciais de esgotamento, e passa a observar as primeiras falências e fusões. À primeira vista, seria um paradoxo e estranho para um setor em expansão. Mas as dificuldades têm razão de ser. Começa a se manifestar um processo que pode ser chamado, em certa medida, de "destruição por conta da concorrência", já que a demanda pelos cursos é limitada – pequena parcela da sociedade consegue arcar com as altas mensalidades – e, acredita-se, já chegou ao seu limite. “Há uma espécie de ganância dos empresários dessa área, que viram os concorrentes crescendo e quiseram crescer também, a qualquer custo”, explica o especialista em marketing educacional, Ryon Braga. Esse desenvolvimento mal planejado trouxe uma série de conseqüências, que vão desde o surgimento de cursos de qualidade questionável até a ociosidade de vagas – outro problema grave.