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A costela de Lobato

Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo

Na casa escondidinha do Jardim Europa, ouve-se o barulho da fechadura, e ninguém mais ninguém menos que a Tia Nastácia abre a porta. Sim, ela mesma, Tia Nastácia, a famosa quituteira do Sítio do Pica-Pau Amarelo. “Dona Joyce já vem”, diz, olhando para o topo da escada. Pé ante pé, Dona Joyce vem descendo pelos degraus vazados da escadaria. Com um rosto entre amável e de moleca, diz: “Aqui estou, mas ainda não entendi direito o que vocês querem comigo”. E respondemos: “Viemos entrevistar e conhecer melhor a senhora, dona Joyce, a neta de Monteiro Lobato!”

O SINPRO-SP teve o prazer de conversar com a arquiteta e neta do escritor Monteiro Lobato, Joyce Kornbluh. Dona Joyce, como é mais conhecida, e seu marido, o engenheiro Jorge Kornbluh, administram as obras e o legado de José Bento Monteiro Lobato, um dos maiores nomes da literatura nacional. São eles, por exemplo, que liberam a utilização dos textos para peças, filmes, programas, reedições, etc. Nesta entrevista, um agradável bate-papo, falamos sobre os feitos do criador de Emília e do Visconde de Sabugosa. Revivemos a trajetória desse nacionalista que não se conformava com o tamanho e a riqueza do Brasil e seu contraditório atraso social e econômico. Em nome de um grande amor e da crença no país, Lobato protagonizou campanhas importantes, que levavam a bandeira do desenvolvimento. As mais conhecidas foram as que defendiam a existência de Ferro e de Petróleo no Brasil. Insistia tanto que nas terras tupiniquins tinha o tal ouro negro que, quando de fato o encontraram, batizaram o primeiro poço, na periferia de Salvador/BA, de Lobato.

Mas o incansável lutador também sofria os revezes dos heróis. Só que em vez de Minotauros ou Cucas, Monteiro Lobato tinha que se deparar com a burocracia – que impedia as mudanças que tanto almejava –, além de enfrentar também com os políticos sem vontade de progredir. Idealista apaixonado, conheceu muitas decepções, e talvez justamente daí tenha brotado aquele dom natural – como sugere Dona Joyce – de querer escrever para as crianças do Brasil. Tratava-se de uma grande aposta no futuro desse país, usando a arma mais forte que tinha: os indicadores que datilografavam incansavelmente as teclas da velha máquina de escrever. Toda sua grande obra para crianças, motivo pelo qual Monteiro Lobato é mais lembrado, tem no fundo uma enorme vontade de educar os pequenos, atiçar a imaginação, colocá-los em contato com um mundo mágico de Saci, Narizinho e Pedrinho, mas muito parecido com esse que vivemos. Narizinho, Pedrinho, Dona Benta, o Saci e todos os outros personagens do Sítio do Pica-Pau Amarelo trazem traços marcantes da identidade nacional.

Mais do que tudo isso, a conversa do SINPRO-SP com dona Joyce nos transporta para um universo de lembranças com o avô Lobato, a quem a família chamava carinhosamente de Juca. As histórias que ele contava, os ensinamentos, as peripécias, o exemplo e o legado. Tudo narrado pela voz brincalhona de uma menina de 74 anos, viva como a boneca falante, sábia como o sabugo, aplicada como Lúcia – a menina do nariz arrebitado – e cheia de travessuras e explorações como Pedrinho. Esse brotamento de Lobato, essa vida que nasceu de sua costela é o que você conhece agora.

Só para esclarecer: Tia Nastácia, que abriu a porta da casa e desse universo fantasioso e cheio de lembranças deliciosas, é, na verdade, Zu, que trabalha com dona Joyce há muitos anos.

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