Mas, como nem tudo que é bom para o Canadá é bom para o Brasil, e dispostos a criar um modelo que desse conta das especificidades da realidade brasileira, “o Instituto Paulo Montenegro, a Ação Educativa e os técnicos do Ibope aceitaram o desafio de criar uma metodologia nacional para medir o alfabetismo funcional”, completa Vera Masagão, fazendo coro ao orgulho de Montenegro: “Uma iniciativa inédita mesmo”. Em 2001, as instituições estabeleceram os parâmetros que seriam pesquisados, dando origem assim ao Índice Nacional de Alfabetismo Funcional, o Inaf.
Com base nesses parâmetros, pesquisadores bateram na casa de duas mil pessoas, de 15 a 64 anos, da maioria dos estados brasileiros. Essas pessoas deveriam estar na escola, ou pelo menos já ter passado por ela. Portanto, seriam, em tese, consideradas alfabetizadas. Os pesquisadores aplicaram testes de múltipla escolha e questões dissertativas de interpretação de texto, baseadas numa revista confeccionada especialmente para a situação. As respostas conseguiam aferir qual a habilidade para leitura e escrita dos pesquisados. Os dados apurados são preocupantes. Um em cada quatro brasileiros é analfabeto, ou não consegue ler e escrever textos mais elaborados. Em termos técnicos, 25% são analfabetos absolutos ou funcionais.
Foi então que eles decidiram transformar os números do primeiro Inaf, relativos ao ano de 2001, no tema do livro Letramento no Brasil, publicado no ano passado pela Editora Global. Os doze especialistas que participam da obra se debruçaram durante um ano sobre os resultados do Índice. “O prêmio foi uma surpresa boa e positiva, que tira a educação de um lugar subalterno, como ela vinha ficando”, comemora Vera Masagão, que é também a organizadora da obra.