Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo
Mesmo que ainda tenha acabado de ultrapassar sua primeira metade, o ano de 2004 já pode ser considerado privilegiado e especial em termos de resgates históricos. Há uma profusão de eventos que reavivam fatos não tão recentes da História do Brasil, e que se relacionam com acontecimentos simultâneos e contemporâneos. Depois dos vinte anos do movimento das Diretas-Já e dos dez anos do Plano Real, estamos às vésperas de completar 50 anos da morte de Getúlio Vargas, o presidente da República que “sai da vida e entra na História”, e que se tornou popularmente conhecido como o Pai dos Pobres. Neste mesmo ano, o golpe militar que derrubou aquele que provavelmente foi o maior discípulo do varguismo, o ex-presidente João Goulart, completa 40 anos. E foi ainda neste mesmo 2004 que acompanhamos a morte do chamado último herdeiro do getulismo, o ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola.
Por mais que almejasse tornar-se um personagem inesquecível na trajetória brasileira, talvez nem Vargas imaginasse que seu nome, sua memória e, porque não, seu legado seriam tão evocados durante este ano. De norte ao sul do país, de maneira mais intensa ou mais tímida, escolas, universidades, centros culturais e a imprensa já começaram a debater e relembrar o cinqüentenário do suicídio do ex-presidente e caudilho, discutindo a importância dele na nossa história e levantando questões – políticas, sociais, econômicas, trabalhistas – relevantes. Por que, por exemplo, ao pensarmos em crescimento e projetos econômicos, ainda recorremos, às vezes sem perceber, ao modelo idealizado e consagrado por Getúlio Vargas? Qual a contribuição que ele deixa em relação ao papel do Estado nacional? Qual a importância e os problemas da legislação trabalhista que deixou? E a ditadura, o autoritarismo varguista, o populismo, as perseguições e prisões políticas, as torturas, a censura, como devem ser analisados?
Série de eventos comeemorativos
No Rio de Janeiro, com objetivo de refletir sobre essas e muitas outras questões, o Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV) está organizando uma série de eventos comemorativos à data. Entre eles se destacam um dossiê sobre o segundo governo de Vargas (1950 – 1954), que será colocado à disposição do público a partir do dia 24/08 no site da entidade (www.cpdoc.fgv.br), além de documentários produzidos em parceria com a Rádio CBN, que tratam dos legados econômico, político e cultural do período varguista.
Marieta de Moraes Ferreira, historiadora e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além de diretora do CPDOC, é uma das organizadoras das atividades relacionadas aos 50 anos do fim da Era Vargas. É ela a nossa entrevistada da semana.