As falas dos atletas revelam ainda outra característica forte do esporte nacional: a divisão social das modalidades. Há, portanto, esportes populares e esportes de elite. Todos com medalhas olímpicas, é verdade, mas colocadas em pescoços bem diversos. Enquanto o iatismo é povoado por Scheidts e Graels, sobrenomes europeus, o atletismo conquistou suas 12 medalhas com atletas negros, entre eles dois Da Silva. A divisão escancara a própria realidade brasileira. De um lado, o esforço pessoal; do outro, o poder aquisitivo. “Vela e hipismo são esportes caros, precisam de equipamentos especiais, com o maior controle de qualidade. E em geral são tradição de famílias”, esclarece a professora da USP. Já a corrida, ou os saltos, só precisam de um tênis, de espaço para serem praticados e um pouco de criatividade. “Eu vi, na periferia de Osasco, meninos e meninas treinando descalços. O salto em altura, por exemplo, era marcado com cabos de vassoura. Aí os clubes assistem a isso e convidam os jovens para treinar”, completa Kátia Rubio.
Apesar de todo o esforço dos esportistas brasileiros, ainda assim o que se observa é que não deixamos de ser a pátria de chuteiras para sermos a pátria dos tatamis, da vela, da ginástica artística. “Tempos de Olimpíadas geram muitos comentários, expectativas e até aumento numa determinada prática esportiva, mas não criamos com isso uma cultura olímpica”, sugere a autora de Heróis Olímpicos Brasileiros. A democratização, o incentivo e o patrocínio das modalidades ainda estão longe do ideal, porque, de acordo com Kátia, “no Brasil, só se alguém tiver um projeto individual a política esportiva é estendida à população”.
Para a autora, a escola deveria ter um papel diferente nesse quadro. Afinal, é lá que os alunos são apresentados às modalidades esportivas. “Mas os problemas começam justamente aí”, refuta a professora de Educação Física. De acordo com ela, o ensino da educação física não é na prática o que deveria ser. Além da falta de estrutura, na maioria das vezes o professor apenas dá a bola aos alunos, quando, na verdade, a disciplina deveria proporcionar consciência do corpo, dos movimentos. “E essa situação se agravou ainda mais depois que a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) derrubou a obrigatoriedade da Educação Física nas escolas”, afirma.
Para começar a reverter esse quadro, Kátia Rubio apresenta duas saídas. A primeira é manter o tal espírito olímpico aceso permanentemente, missão que pode ficar mais fácil e agradável com a leitura de Heróis Olímpicos Brasileiros. A segunda, bem mais árdua, é uma política nacional articulada e consistente de incentivo e apoio às modalidades esportivas, capaz de planejar os quatro anos de intervalo entre uma competição e outra. Só assim se poderá dizer que as medalhas são resultado de uma política nacional de esportes.
Sugestão
Heróis Olímpicos Brasileiros
Autora: Kátia Rubio
Editora Zouk