Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo
Às vésperas de completar 29 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog, assassinado nos porões da ditadura militar em 25 de outubro de 1975, três fotos, que teriam sido tiradas no cárcere, pouco antes do suicídio inventado e forjado, e que mostram aquele que seria Vlado – como era carinhosamente conhecido – nu e humilhado, foram publicadas pelo “Correio Braziliense” e depois reproduzidas por outros jornais e emissoras de televisão. As imagens serviram para reabrir uma das mais profundas – e ainda não cicatrizadas – feridas de nosso passado recente.
Mais do que a dúvida sobre se o homem da foto é mesmo o antigo diretor de jornalismo da TV Cultura – o governo afirma que, na verdade, trata-se do padre canadense Leopoldo D’ Astous, também perseguido pela ditadura, e a própria mulher do jornalista, Clarice Herzog, depois de analisar os documentos originais, confirmou que as imagens não são de seu ex-marido –, a pergunta que paira sobre todo esse episódio é: por que ainda não abrimos os arquivos da ditadura militar? De acordo com os grupos de defesa dos Direitos Humanos, entidades que lutam contra a tortura e, principalmente, segundo a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos, embora boa parte desses documentos possa ter sido destruída, certamente restaria ainda muito material em posse da União e até mesmo em arquivos particulares.
Para discutir essas questões, e com a volta do caso Herzog à agenda de discussões nacionais, o SINPRO-SP entrevistou o desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, professor universitário e atual presidente da Comissão de Justiça e Paz – a primeira constituída em defesa aos Direitos Humano, em 1972, bem no auge do regime militar –, Antônio Carlos Malheiros. Os melhores trechos dessa conversa você acompanha agora.