Outro degrau que a ciência galga com a miniaturização é a aproximação com aquilo que os pesquisadores chamam de fronteira da pesquisa. Em outras palavras, “a menor escala que o homem pode manipular é mesmo a molecular e a atômica. Menor que isso não dá”, diz Toma. Assim, desvendar os segredos da escala nanométrica significa alcançar uma das fronteiras da ciência, “o limite para o infinitamente pequeno”. E a vitória não é representada apenas pela capacidade de atingir essa linha final. Todo o caminho e toda a experiência acumulada em busca da miniaturização soma pontos e informações importantes ao fazer científico. Uma delas é conhecer profundamente átomos e moléculas, conseguir manipulá-los, trocá-los de lugar, e até aprender a armazenar dados em suas estruturas. Para o professor do IQ, o conhecimento que vai se acumulando nesses processos não tem preço. É extremamente valoroso.
Agora, imaginem como será o mundo se, de fato, as previsões dos especialistas em miniaturização se concretizarem. Três grandes áreas sofrerão impactos importantes rapidamente, ou já estão sofrendo. A cosmetologia é a primeira. “Hoje, boa parte dos cremes que as mulheres usam já se utiliza da nanotecnologia”, afirma Toma. Também na área farmacêutica, os liberadores de fármacos passarão a ser utilizados com mais freqüência. “Esses mecanismos miniaturizados garantem que a droga atue no lugar correto no organismo. Ou seja, o antibiótico vai matar apenas e tão somente o vírus e não mais as células que estão por perto”, coloca. O mecanismo proporciona usar uma quantidade menor de drogas e, portanto, os efeitos colaterais também são menores. Um grande avanço. Por fim, temos toda a área de embalagens, rótulos e imagens em geral. Num processo parecido com da fotografia, será possível estampar figuras e similares usando muito menos tinta, por exemplo.
E não pára por aí. O professor da USP não cansa de dar exemplos. “É só colocar nanop?`?`artículas na borracha, aquela de apagar lápis, sabe? E ela vira pneu de carro. O giz escolar, adicionado de nanopartículas, fica semelhante às conchas, bastante resistentes. E já pensou um computador potente ocupando apenas 12 átomos? E isso já é possível”, anima-se.
Para dar conta de todas essas possibilidades, explicar a nanotecnologia e trazê-la para a vida cotidiana de jovens e estudantes é que o professor da USP escreveu e acaba de lançar “O Mundo Nanométrico: A Dimensão do Novo Século” (Editora Oficina de Textos). Mais do que buscar compreender o mundo miniaturizado, a intenção é começar a reverter aquela idéia comum de que a população não tem nada a ver com isso. “As pessoas pararam de acompanhar a evolução da ciência. E, como não entendem o funcionamento das coisas, também não se sentem próximos, ou ligados aos avanços. Mas é justamente o contrário”, explica o autor. Ele associa as dificuldades de compreensão dos assuntos científicos às falhas encontradas no sistema educacional. “O Brasil investe uma soma irrisória em educação, ao contrário de seus pares, como China e Coréia, e isso leva a uma defasagem no entendimento dos avanços científicos”, diz Toma.
Em resumo, a nanotecnologia “vai mudar o mundo. Tenho certeza”, conclui o professor do IQ, “embora a população não vá notar. A revolução se dará em escala microscópica, mas vai alterar significativamente o mundo”. Ainda segundo Toma, cabe ao professor de ciências, de física, de química, de biologia e de todas as outras matérias “chamar a atenção do aluno para a ruptura que está se passando bem pertinho deles. Mais que isso, cabe ao professor explicar e fazer o aluno entender a beleza do mundo miniaturizado, porque ele é o futuro bem próximo”.