Por Francisco Bicudo e Elisa Marconi
Se eu tivesse prestígio para sugerir algo ao Elio Gaspari, eis o que pediria: que mergulhasse com o empenho e a fome que usou para retratar o regime militar brasileiro no processo de mudança de Luiz Inácio Lula da Silva e seu PT. A sugestão vale para qualquer outro jornalista que tenha disposição para desligar-se do trabalho habitual e tentar fazer o inventário da transformação. Vale igualmente para cientistas políticos e sociais.
A proposta – ou desafio – foi apresentada pelo jornalista Clóvis Rossi, em sua coluna publicada pela Folha de S. Paulo*, no dia 30 de novembro. Certamente, o sociólogo Francisco de Oliveira ainda não produziu sobre o governo Lula o trabalho de fôlego que Elio Gaspari foi capaz de idealizar com a série de livros – foram quatro, e ainda aguardamos o último volume – que resgataram e esmiuçaram a formação, consolidação e derrocada da ditadura nos anos 60, 70 e 80. Mas, se existe alguém que desde os primeiros momentos da nova administração federal se dedica a apresentar uma visão crítica do governo, dizendo que o partido mudou, que deixou para trás compromissos históricos, e que “o rei está nu”, este alguém é Chico de Oliveira – como é carinhosamente conhecido o professor titular de Sociologia da Universidade de São Paulo.
Autor de livros como “Os direitos do anti-valor”, “A navegação venturosa – ensaios sobre Celso Furtado” e “Crítica à razão dualista/O ornitorrinco”, Oliveira foi fundador do PT – e dele se afastou recentemente. Motivos? “A única finalidade do partido passa a ser se manter no poder. As bases se descolam das estruturas de comando. E o PT se afasta gradativamente das propostas programáticas que defendia no passado”, responde. Em entrevista exclusiva ao site do SINPRO-SP, ele analisa esse processo de transformação – “não tem volta” –, destaca os prejuízos e perigos que ele representa para a esquerda e a democracia brasileiras – “o perigo é a despolitização da política” – e alerta: “Mesmo se a economia estiver vivendo um bom momento, a reeleição de Lula não será tarefa fácil”.