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Maria Amélia Capucho Ruiz – educadora
ameliaun@bol.com.br
”Durante a década de 70, ministrei aulas de Matemática em uma escola estadual de uma cidade satélite de São Paulo (a ética sugere não divulgar qual). Encontrei uma população de baixa renda, muito mal preparada, que desconhecia alguns princípios básicos, achava a matemática “difícil e muito chata” e sem interesse em aprender.
Eu e uma colega, também motivada, começamos a propor desafios lógicos aos alunos de 6ª série (onde ambas lecionávamos), criando um “momento especial” em nossas aulas. Havia sempre algum aluno para cobrar a resposta ao desafio da semana anterior.
A partir daí, fundamos um “Clube de Matemática”, com reuniões semanais. O estatuto foi redigido pelos alunos, que pesquisaram sobre matemáticos para escolher um nome para o Clube. Também elegeram uma “comissão diretora”, que se ocupava de emitir carteirinhas, preparar as cópias necessárias etc.
Iniciávamos o encontro com uma revisão dos assuntos abordados em sala na semana, eliminando alguma dúvida que surgisse, colocando alguns exercícios mais “elaborados” que eram resolvidos em grupo.
Depois discutíamos as soluções encontradas para o desafio da semana anterior. Em seguida, quem quisesse podia apresentar seu desafio. Cada grupo que encontrava uma solução submetia aos outros para validação. O Professor, nesse caso, fazia parte de um dos grupos e também encarava o desafio.
Feito isso, apresentávamos o desafio da semana, que podia ser geométrico, puro cálculo ou apenas lógico, sem nenhum cálculo. Valia até pontuar frases para que formassem sentido. Promovemos aulas de Xadrez e até uma simultânea de Xadrez com um campeão paulista.
O aproveitamento dos alunos melhorou em todas as matérias e mais sócios apareceram. Os alunos das demais séries começaram a fazer cobrança: quando é que o Clube vai aceitar alunos de outras séries?
Lembrando que as reuniões se realizavam aos sábados, fora do horário normal de aulas, e que os alunos pagavam “mensalidade” (simbólica, apenas para cobrir o material utilizado), isso foi uma grata surpresa. O assunto virou notícia em jornal local.
No ano seguinte, estendemos o Clube a alunos da sétima série (mantendo os antigos sócios, mais os novos alunos da sexta série). Depois do segundo ano de funcionamento, eu e minha colega deixamos a escola, e o Clube se extinguiu.
Mas ainda hoje, quando encontro algum dos ex-sócios do Clube, fico sabendo que são executivos bem sucedidos e atuantes na sociedade local. Houve até um que se tornou professor ... de Matemática! Ainda se lembram daquela que, no dizer deles, foi “uma turma muito boa”.
Será que foi mesmo uma turma especial, ou apenas uma turma que aprendeu a explorar melhor seu potencial? Sem falsa modéstia, sou mais a segunda hipótese!”