Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo
“Não, não é exagero da imprensa”. É com esta frase, e evidentemente preocupado, que o pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Carlos Nobre, admite um aumento na quantidade de fenômenos naturais extremos, em 2005. Ele conta que foram observados, apenas neste ano, 21 ciclones tropicais – um recorde. E 12 deles acabaram se transformando em furacões. “É um número absolutamente significativo”, reforça. Nobre lembra que 2005 entrará para a História como o ano do furacão Katrina, que destruiu a cidade de Nova Orleans, nos Estados Unidos, e do furacão Wilma, que devastou a Flórida – apenas para citar dois dos mais famosos. Ele destaca também a atual seca na Amazônia e as tempestades repentinas em várias partes do mundo, como a que atingiu a cidade do Rio de Janeiro, no início da semana passada, como representantes dos chamados eventos naturais devastadores.
Mas será que todos esses fenômenos estão interligados? Têm causas comuns? O aquecimento global é responsável por eles? Em entrevista ao SINPRO-SP, Nobre tratou de dar conta de todas essas – e de várias outras – indagações. Falou sobre os mecanismos de compensação da natureza – e apressou-se em amenizar a responsabilidade do aquecimento global pela ocorrência dos desastres. “Nada se pode afirmar sobre o aquecimento global provocar um aumento no número de furacões. O que é alarmante é a intensidade que eles alcançaram. E isso sim pode ter relação com o aquecimento global”, explica.
Sobre a seca na Amazônia, foi também enfático: “não se pode afirmar categoricamente que a seca é causada pelo aquecimento global. O que a gente pode afirmar com certeza? Que essas secas mais intensas também são cíclicas”. Para ele, o que a natureza tem feito é procurar reencontrar sua harmonia de funcionamento. “Se o homem muda a composição da atmosfera, gerando desequilíbrio, a natureza reage com mais intensidade para reencontrar o equilíbrio”. E, apesar de todos os problemas, o pesquisador manifesta otimismo. “Na minha opinião, é hora de sermos bem ambiciosos na meta de redução de emissão de poluentes, porque os 5% que o Protocolo de Kyoto coloca é mais um teste que um valor que vá fazer diferença mundialmente”.