Uma das chaves para entender as razões da postura ácida da grande imprensa em relação à proposta parece residir no fato de o Plano indicar a necessidade de discussão sobre o que chama de controle social da mídia, sistematizando uma espécie de lista de veículos que desrespeitariam, em suas narrativas, os direitos humanos. Textos publicados por dois dos mais respeitados jornalistas brasileiros tocam diretamente nessa vertente. Alberto Dines, em artigo (“Mídia à beira de um ataque de nervos”) veiculado pelo site do Observatório da Imprensa, escreve que “a mídia brasileira está sendo vítima de um surto da síndrome de pânico: está com horror ao espelho. Berra e esperneia quando alguém menciona a organização de conferências ou debates públicos sobre meios de comunicação, imprensa, jornalismo. Apavora-se ao menor sinal de controvérsias a seu respeito, por mais úteis ou inócuas que sejam. Parece ter esquecido que o direito de ser informado é um dos direitos inalienáveis do cidadão contemporâneo”. No site da revista Brasileiros, da qual é atualmente diretor, Ricardo Kotscho, que foi Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência durante o primeiro mandato do presidente Lula (2002-2006), diz que “o problema todo é que a mídia não admite que ninguém sequer discuta a midia, não aceita um debate público, ainda mais que se tenha a ousadia de propor algumas regras básicas de convívio civilizado para essa atividade, como acontece em todas as áreas econômicas e sociais da vida brasileira”.
Apesar da contundência da oposição midiática ao Plano, Sergio Adorno diz que o debate tem um efeito positivo, pois a opinião pública está acompanhando o noticiário e não fica alheia ao tema. “Mas não achei adequado o tom majoritário das narrativas”, insiste. Flavia Piovesan concorda: mesmo com as distorções e os exageros, a polêmica serviu para colocar os direitos humanos na agenda da sociedade, nesse início de ano. “Os direitos humanos têm mesmo essa vocação anti-majoritária. Há lutas emancipatórias, conflitos e tensões, em todos os tempos e lugares. De certa maneira, somos sempre bombeiros apagando incêndios”, compara a professora.