Por Francisco Bicudo
No dia 1º de maio, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, falou ao país em cadeia nacional de televisão para anunciar o “triunfo das forças do bem no Iraque e o fim dos combates naque1e país”. Pouco antes, no início de abril, a estátua de Saddam Hussein havia sido derrubada em praça pública – muito embora o próprio líder iraquiano, em carne e osso, não tenha até hoje sido encontrado pelas tropas anglo-americanas. Ainda assim, para Bush, a “paz mundial” havia sido garantida. Como diria Mané Garrincha, esqueceram de combinar com o adversário. Ocupar Bagdá e as outras principais cidades iraquianas foi uma tarefa relativamente fácil – mas o desafio está justamente em manter o território e a população sob controle de forças que, na visão dos iraquianos, são invasoras. E talvez tão indesejadas quanto o tirano Saddam.
A guerra de guerrilhas posterior ao 1º de maio já matou mais soldados norte-americanos do que durante o período oficial do conflito. Bush foi ao Iraque sustentado pelo discurso de que era preciso agir para “derrotar o terror”. Mas parece mesmo que o que conseguiu foi jogar ainda mais lenha na fogueira, realimentando e de certa forma legitimando uma força cada vez mais difusa, sem controle, nebulosa, sem rosto nem forma, movida pela irracionalidade absoluta – e vingativa. Os soldados norte-americanos no Iraque já não sabem mais contra quem lutam. Movidos por sentimentos que vão desde o fanatismo religioso e fundamentalista até a vontade de ver os invasores distantes da região, os atos terroristas se multiplicam. E não respeitam sequer a Organização das Nações Unidas. Suas vítimas, civis ou militares, são todos os que, sob a lógica do terror, são considerados aliados das tropas e governos de ocupação. Logo depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, divulgou-se uma gravação onde Osama bin Laden dizia que os norte-americanos não teriam mais sossego, e seriam obrigados a aprender a viver em estado permanente de alerta, sob o domínio do medo. Não estava brincando. A ameaça do saudita talvez seja uma das chaves para compreender o que se passa no complexo cenário geopolítico mundial, principalmente em relação à região do Golfo e do Oriente Médio. Os falcões de Bush respondem aos suicidas fanáticos da Al Qaeda com bombardeios e tanques. Como represália, terroristas anônimos explodem caminhões-bomba debaixo de janelas de prédios da ONU. Palestinos e israelenses se matam sem mais saber porque – mas é preciso continuar matando.