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O PCC e os ataques de maio de 2006

Francisco Bicudo

Naquela segunda-feira, 15 de maio de 2006, a cidade de São Paulo viveu o pânico coletivo muito de perto. As escolas dispensaram seus alunos mais cedo; trabalhadores deixaram seus locais de trabalho apressados, sem bater o ponto; o comércio fechou suas portas; milhões de paulistanos andavam atarantados e assustados pelas diversas regiões da cidade, buscando freneticamente a proteção de suas residências; no meio da tarde, o trânsito era ainda mais caótico do que o normal, mas, às oito da noite, ao final do horário do rush, a avenida Paulista estava silenciosa, praticamente deserta. Esse cenário foi o tema do filme “Salve Geral”, dirigido por Sergio Rezende e estrelado por Andrea Beltrão, e que inclusive chegou a ser o indicado brasileiro ao Oscar de 2010 (não chegou à disputa final).

O responsável por ter colocado a megalópole, seus habitantes e suas autoridades públicas em xeque foi o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa surgida em meados dos anos 1990, no interior do sistema prisional paulista, disposta a estabelecer "a paz entre ladrões" e a "guerra contra a polícia". De acordo com o site “Observatório da Segurança Pública”, mantido pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), aquele “foi o maior atentado já realizado contra as forças de segurança do Estado de São Paulo”. Os números são até hoje controversos, mas avalia-se que as rebeliões tenham atingido 73 presídios; 90 ônibus foram queimados. Segundo a edição de 15 de maio de 2006 da Folha de S. Paulo, citando dados da Secretaria de Segurança Pública, naquele final de semana, por conta das ações do crime organizado, teriam morrido 81 pessoas (22 policiais militares, seis policiais civis, três guardas municipais, oito agentes penitenciários e quatro civis, além de 38 suspeitos supostamente vitimados em confrontos).

Quatro anos depois, chega às livrarias a obra Junto e Misturado: Uma etnografia do PCC. Escrita pela antropóloga Karina Biondi e publicado pela editora Terceiro Nome, o livro “conduz o leitor por um universo pouco conhecido, controverso e impossível de ser ignorado: o do Primeiro Comando da Capital, ou PCC, e sua história, modo de funcionamento, ética e organização política”, conforme descreve o release de divulgação; por isso mesmo, permite que se faça um balanço daqueles acontecimentos já distantes no tempo, mas ainda intensamente presentes na memória coletiva paulistana. É material que pode certamente ser usado em sala de aula, nas discussões sobre violência e segurança pública.

“De todas as versões que ouvi sobre como tudo aquilo aconteceu, a mais consistente com os dados da minha pesquisa foi a oferecida por Marcola (considerado pelo poder público um dos líderes do PCC), em seu depoimento à CPI do Tráfico de Armas. Segundo ele, o que aconteceu foi uma revolta generalizada e descontrolada por conta da transferência de centenas de prisioneiros, às vésperas do dia das mães”, afirma Karina, que atualmente desenvolve doutorado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), em entrevista exclusiva ao site do SINPRO-SP (a pesquisadora preferiu que a conversa acontecesse por e-mail).

Em seu testemunho, a especialista fala sobre as origens do Primeiro Comando da Capital, analisa a organização interna do PCC, discute os princípios de atuação do grupo, critica a política de repressão adotada pela administração pública e alerta: “O PCC está em funcionamento tal como estava antes dos ataques”.

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